Folha de S. Paulo


Carros mestiços

De Tomaso foi uma fábrica de automóveis fundada em Modena, na Itália, pelo argentino Alexandro de Tomaso. Seu modelo mais vendido, o Pantera, era um esportivo italiano com motor americano Ford 5.8 V8, que também equipava outro modelo da marca, o Longchamp.

Além do motor nascido nos EUA (e usado no Mustang Mach 1) o "mestiço" Longchamp tinha também faróis do Ford Granada, maçanetas da linha Fiat e lanternas traseiras do Alfa Romeo Berlina.

Essa mistura de fabricantes aumentou ainda mais quando De Tomaso comprou a italiana Maserati e, como primeiro projeto, lançou o Kyalami, que é basicamente o Longchamp reestilizado.

"A fabricação artesanal do Longchamp, com itens de prateleira, me recorda a dos modelos Chamonix", diz o economista Julio Penteado, que trabalhou na própria Chamonix e também na Lobini. Ambas produziram carros de forma artesanal no Brasil.

A história do Longchamp 1975 do economista também envolve diferentes nacionalidades: o carro foi emplacado na Itália, seu país de origem, e depois enviado para Angola. Naquela época, o país africano estava se separando de Portugal, tornando-se comunista.

Alguns empresários ricos de Angola obtiveram refúgio no Brasil que, além da facilidade da língua portuguesa, vivia uma ditadura e auxiliava a quem quisesse fugir do comunismo.

Esses imigrantes podiam transportar itens pessoais, dentre eles seus carros. A importação de veículos usados, no entanto, era proibida. O carro angolano com placa italiana gerou desconfiança na alfândega e ficou retido na Receita Federal por 13 anos.

Depois, foi a leilão junto de faqueiros, centrais telefônicas e fios de cobre.

O veículo acabou sendo arrematado no Rio de Janeiro. Penteado, na época, corria de Pantera. A ele foi oferecido o raro Longchamp, comprado na hora. Desde 1992, o economista mantém seu carro mestiço em perfeito estado.

Divulgação
Julio Penteado e seu De Tomaso Longchamp 1975
Julio Penteado e seu De Tomaso Longchamp 1975

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