Folha de S. Paulo


O perseguidor

Os ralis de regularidade de automóveis antigos, em geral, não são baratos. Só a inscrição em um evento de um dia sai por volta de R$ 500. Somado a isso, ainda há despesas com gasolina e pedágios pagos pelo participante.

O custo de inscrição paga a organização do rali, a locação de um rastreador para tomada dos tempos nos pontos de controle e uma refeição para o piloto e seu navegador, servida no local onde são divulgados os resultados.

No caso dos ralis que duram alguns dias, como as Mil Milhas Históricas (competição organizada pelo MG Club do Brasil), o valor da inscrição chega a R$ 5 mil, sem incluir hospedagem.

O mecânico Airton Vieira, 57, diz não ter condições financeiras para competir nessas provas. No entanto, a vontade de estar junto desta turma é maior que tudo: ele vai seguindo os carros em seu Fiat Oggi CS 1984. Já participou dessa maneira de 13 ralis e, apesar de seu passeio não contar pontos, ele se diverte tirando fotos pelo caminho.

Denis Cisma/Folhapress
Airton Vieira e seu Fiat Oggi 1984 no rali até o museu da TAM ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O mecânico Airton Vieira, que participa de ralis com seu Fiat

Vieira costuma se perder muito, pois viaja sem o livro de bordo, que traz todas as instruções do trajeto. Quando isso acontece, o jeito é perguntar nas cidades próximas se algum automóvel antigo passou por ali.

Se algum dos competidores tem problemas mecânicos, ele não hesita em parar para ajudar. Como não está preocupado com o sua posição na prova, fica disponível o tempo que for preciso.

Em uma das Mil Milhas de que participou (já esteve em quatro), a bateria de um Alfa Romeo Spider descarregou.

Vieira não pensou duas vezes: emprestou sua própria bateria para que o competidor terminasse a prova.

Ele mantém um adesivo com um fantasminha no seu Oggi onde se lê "Spirit of La Carrera", do rali mexicana La Carrera Panamericana.

O fantasma simboliza o espírito esportivo do mecânico. Para Vieira, mais do que para os outros, o importante não é competir, é participar.


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