Folha de S. Paulo


Pequeno grande amor

Nesta semana conheci Frida Bayern, uma senhora que não aparenta seus 56 anos de idade. De saia e blusa, ainda entorta muitos pescoços na rua.

Nem a garoa fina estragou o prazer de um passeio com ela. Fomos juntos a uma praça onde pude "namorá-la" com mais calma.

Depois de ver o quanto eu babava por ela, Marcos Valente entregou-me as chaves e, sem ciúmes, disse: "Vai, leve a Frida agora. Eu a dirijo todo dia, você não".

Não era força de expressão. Ele dirige Frida diariamente, sua BMW 600 de 1958. Tanto é verdade que, terminado o passeio, ele me deixou e foi até o supermercado com ela.

Como é ator e músico de jazz, Valente leva seu contrabaixo acústico, que não cabe na cabine do automóvel, amarrado sobre o teto -o que já deve ser um show e tanto.

A BMW 600 é uma versão estendida de quatro lugares da BMW Isetta 300, projeto que aqui no Brasil foi licenciado e produzido com o nome Romi-Isetta. Manteve-se a mesma porta frontal e adicionou-se uma única outra entrada lateral para os passageiros de trás.

Dizemos que a pessoa "casou" com o carro quando gastou muito tempo e dinheiro em sua reforma. Valente ganhou a BMW de seu filho em 2008, mas faltavam muitas peças e o carro estava em estado deplorável. Como era um sonho de infância ter uma Isetta, nada o impediu nos cinco anos de restauração.

Ele foi até um vilarejo em Portugal para comprar um lote de peças. Achou dobradiças no Vietnã e alguns componentes no Reino Unido. Restaurou a funilaria e a pintura no Rio Grande do Sul. Genesio Mercante, especialista em Isettas, cuidou da mecânica em Santa Barbara d'Oeste, interior de São Paulo.

Foi tanto trabalho que Valente consumou o "matrimônio" dando nome e sobrenome à microlimusine.

Eu já tinha visto donos darem nomes para um carro que é o xodó da garagem, mas sobrenome é novidade para mim. Quanto amor!


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