Folha de S. Paulo


Placa Preta

MEU CARRO antigo havia sido restaurado e estava em condições de exibição. Junto dos elogios, vinha sempre a pergunta: vai colocar placa preta?

Respondia que não fazia questão.

Até que em 2008 entrou em vigor a inspeção veicular. O carro, com motor recém-retificado, foi aprovado no teste quando medimos os gases na oficina, mas reprovado no Controlar.

O problema era o carburador: ao contrário da injeção eletrônica, ele não se autorregula e pode apresentar medições diferentes a cada dia.

Decidi que era hora de me afiliar a um clube e ir atrás da bendita placa preta, que me isentaria da inspeção anual.

A certificação nasceu justamente para proteger os veículos de coleção -que circulam pouquíssimo- das leis escritas mais de 30 anos depois.

Se o carro não saiu de fábrica com luz de ré, espelho retrovisor do lado direito, assento com encosto de cabeça e cinto de três pontos, ele deveria ser mantido assim. São essas características que o tornam interessante.

O colecionador e atual presidente do Veteran Car Club de São Paulo, Rafael Lebre Junior, afirma que a ideia da placa preta surgiu nos anos 1970 com os pioneiros do antigomobilismo no país.

Mas o projeto vingaria apenas em 1988, graças aos esforços do advogado José Roberto Nasser. Ele organizou uma caravana de 55 exemplares do Ford A, de São Paulo a Brasília.

Na chegada, dois ministros receberam a comitiva, que pedia o enquadramento especial no código de trânsito.

A tática deu certo. Anos depois, com o apoio do presidente Itamar Franco, nasceu a placa preta.

Para obtê-la é necessário que o carro tenha mais do que 30 anos, filiação a um clube e 80% de peças originais.

Na foto ao lado, está o Cadillac Series 62 1947 de Lebre. Apesar de bonito, ele ainda precisa de ajustes.

Até mesmo o presidente de um clube de antigos ainda não conquistou o direito de circular com placa preta.

Arquivo Pessoal
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O Cadillac Series 62, ano 1947, de Lebre Junior

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