Folha de S. Paulo


Sonho de menino

Qual é o sonho mais comum dos homens desde que eram garotos? Serem jogadores de futebol? Ricos? Famosos?

Produzir carros foi o sonho de menino de Itelmar Gobbi, sócio de Aldo Besson na fábrica de automóveis fora de série Miura, instalada em Porto Alegre.

Com 10 anos de idade, Gobbi já vendia carrinhos de rolimã que ele mesmo montava.

Com a importação de carros proibida desde 1976, o Brasil da década de 80 vivia uma condição favorável para tornar o sonho de fazer carros viável economicamente.

O país foi recordista mundial em número de montadoras fora de série, veículos artesanais produzidos em pequena quantidade. Houve mais de 40 marcas.

Aqui, o desejo de possuir um esportivo era suprido mesmo sem performance. Pagava-se um alto preço para ter um carro parecido com Porsche ou Lamborghini e velocidade de Fusca.

A criatividade brasileira esculpiu automóveis estilosos em fibra de vidro, que atraíam a atenção de muita gente em busca de exclusividade, até mesmo em outros países.

Em 1987, o norte-americano Muhammad Ali, famoso, rico, campeão mundial de boxe, estava aposentado. Ele havia realizado muitos dos seus sonhos, mas não o de trabalhar com carros exclusivos.

Então, Ali se encantou com os Miura. Foi a Porto Alegre conhecer a fábrica, comeu um típico churrasco gaúcho e estudou importar o lançamento da marca naquele ano, o 787.

No entanto, a tentativa não vingou, diz Roberto Gobbi, filho de Itelmar. Verificou-se que dificilmente os Miuras passariam pela homologação de segurança dos EUA, bastante rígida.

Com a abertura das importações no governo Collor, em 1990, os fora de série, defasados em relação ao mercado internacional, pararam de vender.

Em 1993, Itelmar foi obrigado a desistir de seu sonho, e tornando nosso sonho de ter uma marca de automóveis nacionais cada dia mais distante.


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