Flores, chocolate, sabonete perfumado? Não, esse ano resolvi inovar no meu presente de Dia dos Namorados.
Dei um Mini Morris 1978 para minha esposa, Flaviana Bernardo.
Na verdade, havia comprado o carro como presente de casamento, mas muitos itens precisavam de revisão. Dar o presente e pegá-lo de volta por meses para arrumar não daria muito certo.
Havia um barulho chato na caixa de direção, para-brisa delaminando, pneus carecas e freio inexistente. Mas o pior era a tapeçaria. Um tecido cinza triste e meio molenga, que não combinava com a imagem alegre do Mini por fora.
Denis Cisma/Folhapress | ||
Flaviana e o Mini, que passou por quatro meses de reforma |
Não tive dúvidas, adiei o presente. E, em segredo, comecei a reforma, que durou quatro meses. Comprei literatura sobre o carro para ler escondido enquanto ela dormia. Pedi peças de reposição na Inglaterra. No almoço, fugia para a 360 Restaurações, uma oficina especializada em Mini Cooper. Fiquei muitas vezes sem comer.
Pensei em entregá-lo no Dia das Mães, mas o carro ainda estava com problemas.
Como ela nunca teve um antigo, resolvi investir em conforto. Coloquei travas e vidros elétricos, porta-trecos e quebra-sol com espelho para ela se maquiar. Também forrei os bancos com um tecido xadrez e limpei o ar-condicionado.
Ficou uma graça, pronto no Dia dos Namorados. Para não criar suspeitas, escondi o Mini em uma vaga aleatória no prédio.
Quando ela chegou do trabalho, falei que o meu presente estava na garagem, no porta malas do meu carro, e que era muito grande e pesado. Precisava da ajuda dela para carregá-lo. Lorota total.
Entreguei as chaves e o documento já no nome dela, enquanto apontava para o Mini. O olho arregalou e o queixo caiu no chão. Entre beijos, ela disse que esse era o melhor presente que havia ganhado na vida.
Dirigiu o dia inteiro no dia seguinte e me mandou um SMS: "Tô apaixonada por vcs dois, o Mini e vc."
Não senti ciúmes.