Folha de S. Paulo


Todo louvor ao bode

Bodes e cabras. Cabritos-monteses. Íbexes. Carneiros e ovelhas. Os caprinos formam uma família cheia de personalidade, e uma trinca de jogos recentes serve de testemunho a esse carisma.

"Goat Simulator" começou como piada interna do estúdio Coffee Stain, mas um vídeo do protótipo se tornou tão popular que a empresa resolveu lançar o jogo no Steam.

A simulação fica apenas no título. Essa paródia é um "sandbox" em estado bruto, um festival de pura demência em que até problemas técnicos estão a serviço da diversão.

O jogador controla uma cabra capaz de fazer coisas de cabra: balir, saltar, lamber e promover o caos sem limites.

O mapa é meio urbano, meio bucólico, um playground cheio de possibilidades. É um mundo com física peculiar, onde tudo sai voando com o mínimo de estímulo e transeuntes desabam ao tropeçarem.

Todo o cenário pode ser explorado para além da experimentação "freestyle" pela ágil protagonista. O sistema de objetivos (exemplo: ficar o maior tempo possível voando pelos ares), pontuação e conquistas ajudam a dar alguma estrutura à experiência.

Não que isso seja necessário.

Além de enfrentar caminhões, arruinar festas e demolir casas, a cabra também assume outras formas. Vencendo uma série de duelos, se torna musculosa e muito mais forte. Ao fazer um ritual num canto escondido, vira um bode satânico capaz de rolar objetos até formar uma esfera de dimensões crescentes, lembrando "Katamari Damacy". Até "Flappy Bird" é homenageado.

Eu poderia falar da alegria de fazer uma cabra munida de jetpack quase ir até o espaço pulando de uma cama elástica a outra, mas a melhor coisa de "Goat Simulator" são essas descobertas. Experiência quase sublime de tão ridícula.

O jogo tem suporte ao Steam Workhsop, o que significa vários tipos de mods que, dentre outras coisas, dão poderes adicionais à cabra. E outros mapas vêm por aí, além de multiplayer local.

"Escape Goat", também disponível no Steam, é outro tipo de caprino. Neste "puzzle" com toques de "platforming", um bode heroico se vê numa prisão misteriosa na companhia de um rato. Para escapar (e libertar suas amigas ovelhas) deve enfrentar uma sequência de salas cheias de obstáculos variados. Depois que itens são coletados e interruptores acionados, a porta de cada uma se abre, permitindo o progresso de quem joga.

É um jogo simples e clássico que, como um cabrito escalando uma montanha, se destaca pelo equilíbrio: a dificuldade está no ponto certo e o design compensa momentos que exigem habilidade com o controle com outros que forçam o raciocínio lógico.

Em "Escape Goat", morrer muitas vezes faz parte da experimentação essencial para descobrir o segredo de cada sala.

Os gráficos retrô são muito simpáticos, e a trilha sonora é eficaz. O único problema de "Escape Goat" é ser curto, mas "Escape Goat 2" acaba de ser lançado e é (ainda bem) mais do mesmo. A diferença principal está nos gráficos, ainda em 2D, mas agora em maior definição e sem o charme pixelado.

De fato, que época maravilhosa para se viver, gostar de games e admirar caprinos. Graças a Pã.


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