Folha de S. Paulo


Alegrias de bolso

A geração anterior de portáteis foi excelente: DS e PSP me proporcionaram centenas de horas de envolvimento com games criativos e inusitados. Com isso em mente, logo que botei as mãos num 3DS vasculhei a loja online para ver o que encontrava de bom e diferente do normal.

Um dos destaques da eShop é "Attack of the Friday Monsters! A Tokyo Tale", da Level-5. Quase uma "visual novel", onde as interações se resumem a caminhar pela cidade, conversar com os vizinhos, recolher pedras coloridas e disputar partidas de joquempô disfarçado de "card game", tudo para avançar a história do garoto Sohta, recém-chegado numa cidadezinha nos anos 1970.

O clima é bucólico e o ritmo, lento mas agradável. Como tudo acontece de um ponto de vista infantil, nunca temos certeza se os eventos cada vez mais estranhos são fantasia ou realidade. Com em torno de três horas e meia de duração, tem a duração perfeita manter o encanto.

Não é preciso ter crescido no Japão para absorver o clima nostálgico do jogo: basta ter sido criança e assistido algum tokusatsu, os seriados de tevê em que heróis lutam contra monstros gigantescos e que também fizeram muito sucesso no Brasil.

"Tokyo Crash Mobs", publicado pela Nintendo, é tão amalucado que mais parece um jogo da SEGA: a princípio, o tom surreal lembra a dupla "Feel the Magic: XY/XX" e "The Rub Rabbits!", títulos do Sonic Team lançados no início da carreira do DS.

Em vez de uma compilação de minijogos dementes, porém, temos aqui um puzzle com estética retrô em que a pixel art dá lugar ao "full motion video" temperado com doses generosas do adorável nonsense nipônico.

Quem jogou "Zuma", disponível para todas as plataformas conhecidas pelo homem, conhece bem a mecânica do game. Mas agrupar pessoinhas coloridas envolvidas em situações absurdas é exponencialmente mais divertido que fazer isso com esferas genéricas, ainda mais quando a ação é interrompida a todo momento por "cutscenes" dadaístas. Viciante e deliciosamente perturbador.

Mas até a Nintendo tomar vergonha e liberar jogos de SNES e GBA para a eShop, permitindo o acesso portátil a clássicos como "Earthbound" ou mesmo um lançamento oficial do divertido e comovente "Mother 3", a joia da eShop é a versão definitiva de "VVVVVV", indie platformer lançado originalmente para Windows em 2010.

Com gráficos rudimentares inspirados nos clássicos de Matthew Smith para o ZX Spectrum (TK90x/TK95 no Brasil), como "Jet Set Willy", e um design de fases que lembra os melhores momentos da série "Metroid", a grande atração em "VVVVVV" é morrer. E é bom se acostumar, porque isso vai acontecer milhares de vezes.

Mas ao invés das mortes repetidas do carismático Capitão Viridian irritarem o jogador, como acontece nos games mais casca-grossa, neste platformer com jogabilidade baseado em gravidade é impossível não sorrir (ou mesmo gargalhar) a cada inevitável fracasso, porque o game é dificílimo mas nunca injusto. Recomendo com vigor extremo.

Antes do ponto final, um lembrete: até o dia 31 deste mês, quem registrar "Shin Megami Tensei IV" e "Fire Emblem: The Awakening" no Club Nintendo --e digamos apenas que um dono de 3DS que ainda não tem esses dois jogos deve repensar suas prioridades na vida-- ganha 30 dólares para aproveitar as dicas acima ou gastar como quiser na eShop.


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