Folha de S. Paulo


Eleição extra para o Senado no Alabama testa caráter do americano

Brynn Anderson - 5.dez.2017/Associated Press
O candidato ao Senado pelo Alabama Roy Moore fala em comício
O candidato ao Senado pelo Alabama Roy Moore fala em comício

A eleição especial para o Senado do Alabama nesta terça-feira (12) tem muito mais valor do que o já importante preenchimento de uma vaga no Senado: para todos os efeitos, vai medir o caráter do americano nesta altura do "trumpismo". Pelo menos o caráter do americano do Alabama.

Explico: o candidato republicano chama-se Roy Moore, acusado por inúmeras mulheres de ter cometido avanços indesejados ou ataques sexuais, quando elas eram adolescentes (a mais jovem denunciante tinha 14 anos à época). Moore era trintão.

Ele nega que tenha cometido atos impróprios, mas admite encontros com meninas acima de 16 anos, idade legal para consentimento sexual no Estado.

Se Moore for eleito, o significado mais evidente é o de que toda a campanha "#MeToo", pela qual centenas de mulheres denunciaram assédio sexual de poderosos, terá caído no vazio.

Já seria muito, como escreve para o "New York Times" David Leonhardt, editor da newsletter de Opinião do diário: "Se as detalhadas alegações contra Moore - que estão amparadas em múltiplos tipos de evidência - fossem o único problema com sua candidatura, ainda assim fariam dele o mais imoral candidato ao Senado em muito tempo".

Não é apenas um jornalista crítico de Donald Trump - que está dando apoio público a Moore - a desqualificá-lo: diz Richard Selby, senador republicano - o partido de Moore e de Trump: "Eu não poderia votar em Moore. O Estado do Alabama merece mais".

O perfil do candidato mostra outros ângulos igualmente daninhos: ele considera a homossexualidade "diabólica" e até discute a hipótese de que seja punida com a morte.

Mais: chegou a dizer que um membro do Congresso deveria ser barrado porque é muçulmano.

Como o Alabama é um dos Estados mais ardentemente republicanos, Moore é ligeiramente favorito contra o democrata Doug Jones, ainda mais que a margem habitual de vantagem dos "vermelhos" (os republicanos) é de 25 pontos percentuais sobre os "azuis" (os democratas).

Se, no entanto, houver um mínimo de bom senso entre os eleitores, criar-se-á um problema a mais para Trump: os republicanos têm hoje apenas 52 dos 100 senadores. Perderem um reduzirá a maioria para apenas um voto, "o que tornaria mais fácil para republicanos moderados bloquearem a agenda de Trump", observa o canadense "Globe and Mail".


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