Folha de S. Paulo


O Brasil envelhece na eterna busca pelo 'novo' que jamais dá as caras

O "novo" na política permeia parte da edição desta terça-feira (28) da Folha, do editorial ("Limites do novo") ao artigo do sempre excelente Joel Pinheiro da Fonseca, passando pela charge de Laerte.

Fácil de explicar: a renúncia de Luciano Huck à candidatura presidencial fez com que ficasse "aberta a vaga para ser a cara do novo em 2018", como constata Pinheiro da Fonseca.

Nada contra o "novo" (seja lá o que isso signifique). Ao contrário, tudo a favor. Pena que essa busca seja repetitiva: em 2002, ano de eleição presidencial, já havia essa ânsia por encontrar alguma novidade no panorama político-eleitoral.

Tanto era assim que quem saltou na frente nas pesquisas foi Roseana Sarney. Não precisa me dizer que não era propriamente uma novidade. Afinal, o clã Sarney domina a política maranhense faz séculos, a própria Roseana já havia sido eleita deputada federal 11 anos antes, além de ter sido figura influente no governo do pai, encerrado em 1990 —ou 12 anos antes do pleito no qual ela largou na frente, como novidade.

Roseana só parecia uma novidade porque rompia o fla-flu dos dois pleitos anteriores entre PT e PSDB.

O caso Roseana ilustra, portanto, a dificuldade de carimbar como realmente "novo" qualquer figura que apareça. A rotulação é magnificamente analisada, aliás, no artigo de Joel Pinheiro da Fonseca.

Abatida Roseana por uma pilha de dinheiro vivo encontrada em seu escritório político (o que demonstra que nem as malas de Geddel são algo "novo"), a novidade seguinte foi Ciro Gomes, que começou a subir nas pesquisas. Morreu enforcado na própria língua comprida, capaz de dizer mentiras bobas.

Deu Lula, na sua quarta tentativa de chegar à Presidência, o que, por si só, já arranhava o rótulo de "novo".

Que se busque agora, 15 anos depois daquela eleição, mais um "novo" é uma clara evidência de que o sistema político desandou completamente.

Não, não é (apenas) uma opinião pessoal: o Fórum Econômico Mundial, aquele que reúne, todos os janeiros, a elite global em seu encontro anual em Davos, mostrou no seu Índice de Competitividade Global, que, no sub-item "Confiança do público nos políticos", o Brasil aparece na 137ª posição, o último lugar, já que são 137 os países que compõem o Índice.

Como resumi à época (setembro), os políticos brasileiros são os menos confiáveis do mundo —o que é uma enormidade, se se considerar que os políticos, em toda parte, estão em fase de descrédito colossal.

Não sei se, em 2018, dará ou não certo a busca pelo novo. Como sou profissional do ceticismo, penso na Argentina de 2001, quando multidões saíram às ruas aos gritos de "que se vayan todos", derrubaram um presidente, outros cinco se sucederam em pouco tempo na Casa Rosada, mas não se foram todos.

Ao contrário, a Casa Rosada ficou um bom tempo nas mãos dos Kirchner (Néstor, primeiro, Cristina depois), políticos tradicionais, que de novo tinham apenas o fato de terem base mais perto da Antártida do que de Buenos Aires.

Só em 2015, surgiu não propriamente uma novidade mas um presidente (Mauricio Macri) capaz de vender uma agenda liberal em um país com firme tendência ao estatismo —como o Brasil, aliás.

Há movimentos no Brasil para tirar o liberalismo do armário, mas ainda é pouco para supor que o "novo" no Brasil-2018 possa ser um liberal de verdade. Até porque o partido que mais próximo poderia estar dessa vertente (o PSDB) surge com um manifesto com cheiro de naftalina. Tanto que tira do baú o "choque de capitalismo" que Mário Covas cunhou em 1989, faz já 28 anos.


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