Folha de S. Paulo


E o Planalto vai para... ninguém

Se se repetir em 2018 o cenário apontado em recente pesquisa da Ipsos Public Affairs, especializada em pesquisas de opinião pública, a eleição marcará maciça rejeição aos políticos convencionais, de direita, de centro e de esquerda.

Há apenas duas personalidades –ambos não-políticos– cujo índice de aprovação supera a rejeição: o juiz Sergio Moro (55% de aprovação contra 37% de rejeição) e o ex-ministro do Supremo, Joaquim Barbosa (47% a favor, 36% contra, com um número elevado de não sabe, na altura de 17%).

Nem Deltan Dallagnol, o mais midiático dos responsáveis pela Lava Jato, escapa de uma rejeição superior à aprovação: só 13% o aprovam contra 45% que o rejeitam. Cabe, nesse caso, uma observação: um número muito elevado (41%) prefere cravar "não sabe" para o procurador –indício de que um fatia substancial do público não o conhece.

Outro nome permanentemente na mídia, Rodrigo Janot, também é rejeitado pela maioria (52%) contra aprovação de 22%.

De todo modo, essas quatro personalidades do mundo jurídico são os menos rejeitados em uma lista que inclui também 12 políticos.

Dário Oliveira/Folhapress
O juiz federal Sérgio Moro participa de debate sobre a autonomia das instituições brasileiras e o efeito pós Lava-Jato nos poderes e nos negócios, nesta terça-feira (15) durante a, promovido pela rádio Jovem Pan, no hotel Tivoli em São Paulo.
O juiz federal Sergio Moro durante debate em agosto

Destes, nenhum escapa de uma maciça rejeição, à direita, ao centro e à esquerda.

Que Michel Temer é recordista de rejeição, todo o mundo sabe. Que Aécio Neves o siga de perto tampouco chega a ser novidade. Que Luiz Inácio Lula da Silva é mais rejeitado do que apoiado é um dado que o Datafolha tem revelado sistematicamente.

Na pesquisa da Ipsos, Lula tem 32% de apoio e 66% de rejeição. A porcentagem de apoio é muito parecida com a que aparece no Datafolha, mas a rejeição é bem maior.

De todo modo, há quatro políticos à frente de Lula em matéria de rejeição: José Serra, Dilma Rousseff, Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin, pela ordem.

Não escapam igualmente políticos menos tradicionais, como Henrique Meirelles, o ministro da Fazenda, e o prefeito João Dória.

Ou seja, a direita tem um grau de rejeição similar ao da esquerda (a propósito, Marina Silva e Ciro Gomes, geralmente rotulados como de esquerda, sofrem igualmente com rejeição mais elevada que apoio).

Desses dados, surgem duas conclusões do Eurasia Group, especializado em análise de risco:

1 - Há uma crescente ira contra o establishment, dirigido principalmente contra a classe política;

2 - Lula não é necessariamente o verdadeiro risco para as reformas pró-mercado encetadas pelo atual governo. O risco, acha o Eurasia, é um "cenário no qual Geraldo Alckmin, político que é a quintessência do establishment, seja o único candidato a defender a causa da reforma".

3 - Sempre do ponto de vista dos entusiastas das reformas, a variável ideal para 2018 é "moldar um candidato pró-reforma com apelo anti-establishment", tal como o prefeito Doria.

O analista do Eurasia acha que o prefeito será candidato.

Pedro Ladeira/Folhapress
O presidente Michel Temer, acompanhado do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e do deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), na cerimônia de assinatura do decreto que reconhece os supermercados como atividade essencial, no Palácio do Planalto em Brasília.
O presidente Michel Temer no Palácio do Planalto, em Brasília

Minha opinião: primeiro, é cedo para tirar conclusões sobre 2018, mas é evidente a irritação de grande parte do público com o mundo político e com o establishment, de forma mais abrangente.

Não dá para esquecer que a elite empresarial está tão encalacrada na Lava Jato como os políticos.

Segundo, acho pouco provável que Moro ou Joaquim Barbosa, os dois únicos mais aprovados que rejeitados, sejam candidatos. Não se vê movimento, em qualquer partido, para atrai-los nessa condição, embora haja quem os queira como membros.

O que se vê é o trabalho para consolidar candidaturas tradicionais, não apenas no PT e no PSDB. Marina Silva, na Rede, Ciro Gomes, no PDT, e Álvaro Dias, no Podemos, estão em campanha pouco velada.

Logo, não está à vista por enquanto um candidato com alguma viabilidade e que seja anti-establishment, a favor ou contra as reformas.

A propósito, o repúdio popular às reformas é de tal ordem, segundo as pesquisas, que parece no mínimo improvável que um candidato que as defenda tenha reais chances de vencer.

Tudo somado, o que dá para dizer, por enquanto, é que 2018 é um buraco negro.


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