Folha de S. Paulo


Sabe a última do Trump? É caso urgente para camisa de força

O último delírio de um certo Donald Trump que, incrivelmente, conseguiu eleger-se presidente dos Estados Unidos da América, é definitivamente um caso patológico que requer urgente internação.

Se é que alguém não leu, breve resumo: Trump sugeriu, como instrumento de combate ao terrorismo, que se estudasse o caso do general John Pershing, interventor americano na província de Moro (Filipinas) entre 1909 e 1913. O general teria ordenado que as balas para o fuzilamento de 50 acusados de terrorismo fossem embebidas em sangue de porco.

Foram fuzilados 49 e, o 50º, libertado para que espalhasse a história na sua comunidade muçulmana. A lógica da história: como quem come carne de porco (e, por extensão, sangue do animal) vai para o inferno, segundo algumas interpretações do islamismo, usar esse tipo de balas dissuadiria terroristas de passar à ação.

Segundo Trump, o episódio levou a 25 anos sem problemas com terrorismo.

Pena que tudo não passa de uma lenda, como já demonstraram os historiadores, depois que Trump, então candidato, levantou o caso pela primeira vez, em 2016.

Já é grave que um presidente dê ouvidos a algum bajulador que lhe sopre histórias "fake" e saia por aí repetindo-as como uma espécie de sermão da montanha.

Mas ficaria mais grave –e mais ridículo ainda– se o suposto método Pershing entrasse para os manuais de combate ao terrorismo.

Imagine-se, por exemplo, o atentado de Barcelona. Os policiais que perseguiam os ocupantes da van usada no ataque teriam que parar no primeiro açougue do percurso, perguntar se vendia porco e, se sim, se podiam embeber suas balas no sangue do animal.

Só então, estariam autorizados a continuar na perseguição.

Cabe imaginar uma hipótese algo menos ridícula, mas igualmente estúpida: digamos que as forças policiais do mundo todo só comprassem munição que fosse "haraam" (proibido pelo Islã). Seria preciso espalhar a informação para todas as comunidades islâmicas, para que os candidatos a terroristas ficassem informados de que iriam para o inferno se atingidos, em vez de desfrutar de 72 virgens no paraíso, como reza o manual de instruções jihadista.

Ainda que a crença na maldição superasse a fé na beleza da jihad, ainda assim o previsível seria que o terrorista se matasse por seus próprios meios (como aliás o faz grande parte deles) em vez de esperar a bala com sangue de porco.

Como é que um presidente se presta a pregador de tolices desse porte? "Trump não tem ideia do que significa ser presidente", responde, já na capa desta semana, a revista "The Economist" (atenção, trumpistas do Brasil, a revista não é exatamente de esquerda).

Completa o texto que deu mote à capa: Trump "é politicamente inepto, moralmente estéril e temperamentalmente despreparado para o cargo".

É melhor colocar uma camisa de força nele enquanto é tempo de evitar maiores estragos.


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