Folha de S. Paulo


Quando crianças mimadas brincam com armas atômicas

15.mai.2017/Reuters
O ditador norte-coreano Kim Jong-un durante teste de míssil em maio deste ano
O ditador norte-coreano Kim Jong-un durante teste de míssil em maio deste ano

Alguns líderes mundiais andam se comportando como crianças mimadas, o que seria apenas ridículo, não tivessem dois deles armas nucleares, o que pode transformar a brincadeira em carnificina.

Claro que me refiro principalmente a Donald Trump e ao norte-coreano Kim Jong-un, mas também a Nicolás Maduro, o ditador venezuelano.

Este último, em todo o caso, é ridículo há mais tempo. Quem diz que recebe conselhos do seu padrinho político, Hugo Chávez, por meio de um "pajarito" não é sério. Nem por isso deixa de ser letal, como comprovam denúncias de incontáveis organismos de direitos humanos, acatadas pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

A mais recente palhaçada de Maduro é a convocação de exercícios militares para o fim deste mês, em preparação para uma invasão militar norte-americana. Só mesmo o ridículo Maduro para levar a sério a ameaça do também ridículo Donald Trump de utilizar a força para "resolver" a crise venezuelana.

Todos os países relevantes das Américas e até a oposição venezuelana rechaçaram a ameaça de Trump, o que, de resto, era tão previsível que até eu a antecipei em texto para a Folha escrito no dia em que o presidente americano fez seu comentário.

No caso da Coreia do Norte, Trump e Kim ficam com aquele desafio infantojuvenil de gritar um para o outro "cospe aqui que você vai ver". Retórica pura, de que dá prova a informação desta terça-feira (15) segundo a qual a ditadura norte-coreana vai segurar testes de mísseis nas proximidades da ilha de Guam (território americano).

Kim promete monitorar a "conduta tola e estúpida dos ianques" antes de dispará-los.

Trump, com isso, ganha no mínimo algum tempo mais antes de lançar "fogo e fúria" contra o país asiático. Mas, boquirroto como é, é bem capaz de dizer que foi essa ameaça que fez Kim segurar seus mísseis.

Não foi. Mesmo que houvesse de fato a intenção de lançá-los, o que é difícil de saber em regimes tão fechados como o norte-coreano, o que deve tê-lo dissuadido não foi Trump, mas Xi Jinping, o líder chinês. Ao cortar importações da Coreia do Norte, a China pisa forte no tubo de oxigênio do regime, o que tende a funcionar muito mais do que as extravagâncias de Trump.

Menos mal, pois, que haja um "new kid on the block" (a China), tocando uma música mais sensata no momento em que ninguém entende direito que ritmo toca a América, o mais poderoso "kid" anterior na praça mundial.


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