Se serve de consolo para o presidente Michel Temer, informo que surgiu uma espécie de Joesley Batista em um país que aparece com frequência no noticiário mas quase nunca ou nunca por escândalos de corrupção. Refiro-me a Israel.
O Joesley Batista judeu é também empresário, como o original tapuia, e também tem intimidade com o governante de turno, no caso o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Na verdade, tem intimidade até maior, por ter sido chefe de gabinete do premiê. Chama-se Ari Harow e acaba de tornar-se testemunha (de acusação) em duas investigações a respeito de casos de corrupção que envolvem seu antigo chefe.
Há mais semelhanças com o Brasil, embora a dimensão do trambique seja substancialmente menor.
A mídia israelense informa que Harow incriminou Netanyahu no "Caso 2000", como foi batizado pelos investigadores. Pouco imaginativo na comparação com os nomes que usa a Polícia Federal brasileira.
Trata-se de um suposto acordo entre o premiê e o "publisher" do jornal Yedioth Ahronoth, Arnon Mozes, pelo qual o governo atrapalharia o jornal rival Israel Hayom, em troca de uma cobertura mais favorável do Yedioth.
Segundo o Canal 2 da TV israelense, Harow teria sido orientado por Netanyahu a levar adiante o acordo entre seu chefe e o editor Mozes.
Lembra, portanto, a suposta (ou real) indicação de Rodrigo Rocha Loures como interlocutor de Joesley Batista. Mas está abissalmente longe da mala com dinheiro que Rocha Loures recebeu.
O segundo escândalo, o "Caso 1000", envolve supostos (ou reais) presentes ilícitos de benfeitores bilionários do primeiro-ministro, no valor de "milhares de shekels" (moeda israelense) em charutos e champanhe.
Não lembra Sérgio Cabral, mas com valores menos suculentos?
A delação do ex-chefe de gabinete, como a de Joesley Batista, mereceu um prêmio, menos generoso no entanto: deve pegar seis meses de serviços comunitários e uma multa equivalente a US$ 193 mil (R$ 603 mil).
O fato de os valores envolvidos nem sequer se aproximarem dos que a Lava Jato está revelando não impediu a profunda indignação de parte da mídia israelense.
O repórter investigativo Gidi Weitz (do Haaretz) escreve que não são os únicos escândalos a sacudir Israel e conclui: "Todos esses casos demonstram uma enraizada cultura de corrupção às custas do público. (...) A corrupção é uma indústria que envolve dezenas de pessoas, incluindo algumas muito bem situadas no governo, pessoas dentro das máquinas partidárias, consultores, conselheiros e lobistas. E, às vezes, pessoas que não são criminosos experimentados em absoluto, mas apenas cidadãos que obedecem às leis mas que se vêem mergulhando na lama porque pensam 'cosi fan tutte' (todos o fazem)".
Aposto que você já leu algo muito parecido em português.
Tem mais: charge na página de opinião do Yedioth mostra um aeroporto lotado e um homem dizendo que está lotado como a Lahav 433 (a unidade de investigações de fraudes da polícia, o que seria mais ou menos equivalente à Lava Jato).
Serve de consolo ou apenas demonstra que o Brasil é mais corrupto?