Folha de S. Paulo


O Brasil fica pequeno no G20

Michael Kappeler - 12.jun.2017/AFP
A chanceler alemã, Angela Merkel, fala em evento preparatório da reunião do G20, que será em julho
A chanceler alemã, Angela Merkel, fala em evento preparatório da reunião do G20, que será em julho

O Brasil passa mais uma vez vergonha ao ser divulgada, pelo governo alemão, uma série de dados estatísticos relativos aos países do G20, o clubão das maiores economias do planeta, cuja cúpula anual será em julho, na Alemanha.

Sei que os conformistas e os "patrioteiros" de plantão dirão que é covardia comparar o pobre Brasil com os grandes do planeta. Pode até ser, mas quem, se não os grandes, deve servir de paradigma? A Venezuela? A Síria? O Afeganistão?

O problema brasileiro é que o país sai mal na foto até quando a comparação é com os dois outros países latino-americanos que fazem parte do G20 (Argentina e México).

Tome-se o crescimento da economia, por exemplo, entre 2010 e 2016, o que inclui, portanto, anos anteriores à catástrofe gerada pela gestão Dilma Rousseff: o Brasil (crescimento de 2%) só ganha da Itália entre os 20. Perde da Argentina (5%) e do México (18%).

Mas há comparações que são ainda mais eloquentes a respeito da precariedade do Brasil.

Uma é com a Coreia do Sul, no item "expectativa de vida ao nascer". Nesse capítulo, a tabela cobre mais de meio século, de 1960 a 2015.

O ponto de partida da Coreia do Sul é inferior ao do Brasil, até porque se tratava nos anos 1950 de uma lamacenta nação de camponeses. Cada coreano tinha 53 anos de expectativa de vida ao nascer, contra um tico mais do Brasil (54).

Em 2015, no entanto, os coreanos chegam aos 82 anos, bem mais que os 75 esperados para o Brasil.

Se se quiser a China como comparação, outro país pobre até faz pouco, é igualmente devastador para o Brasil. Cada chinês esperava viver 43 anos em 1960; agora, 76.

Fica claro que o Brasil tem um desenvolvimento social lento.

Outro item importante na área social: distribuição de renda. O Brasil só é menos desigual, entre os 20, do que a África do Sul. Quarenta por cento da renda nacional era apropriada pelos 10% mais ricos em 2014 (último ano para o qual há dados comparáveis).

Na África do Sul (dados de 2011), 50% iam para os mais ricos.

Detalhe fundamental: a África do Sul só eliminou o apartheid –equivalente local da escravidão dos negros– em 1994. No Brasil, a escravidão foi abolida mais de um século antes (1888), mas o apartheid social continua de pé.

À margem das vergonhas nacionais, há uma comparação que sugere argumentos para os fanáticos tanto contra ou a favor da reforma da Previdência.

No Brasil, havia 13 pessoas sobre 100 com mais de 65 anos (portanto candidatos à aposentadoria ou já aposentados). Número que pulará para 40 em 2050.

Ponto, portanto, para os pró-reforma da Previdência. Mas o Brasil fica hoje em 14º lugar, junto com a Turquia, nessa relação idosos/mais jovens. Mesmo em 2050, ainda estará em 10º lugar.

Como os que ficam à frente do Brasil não demonstram tanta pressa assim em reformar a Previdência, a comparação sugere que a reforma é, sim, necessária, mas que talvez haja tempo para discuti-la mais profundamente com uma sociedade majoritariamente contra ela.


Endereço da página: