Folha de S. Paulo


Maduro, o pássaro, as vacas e a esquerda

Presidência da Venezuela - 18.abr.2017/AFP
Venezuelan President Nicolas Maduro talks during a televised program in Caracas on April 18, 2017. Venezuelan President Nicolás Maduro said Julio Borges, head of the parliament of majority opposition, is leading a coup against him and must be prosecuted. / AFP PHOTO / PRESIDENCIA ORG XMIT: VEN1805
Maduro discursa na TV em abril e acusa oposição e EUA de um golpe contra seu governo

Era uma vez um presidente, chamado Nicolás Maduro, que recebia orientações de seu guru Hugo Chávez, que, depois de morto, lhe aparecia como um "pajarito".

Agora, esse mesmo presidente faz uma peroração às vacas. Sim, você leu bem, é às vacas mesmo, convocando-as para apoiar a indecente "constituinte popular" que ele pretende convocar, sem que seja eleita por sufrágio universal, como manda qualquer regra democrática decente.

Em seu programa de TV, Maduro pergunta às vacas: "Vão me apoiar na Constituinte ou querem 'guarimba' [o nome que os venezuelanos dão aos protestos]?".

"Querem violência?", continua pregando às vacas. "Os que queremos paz e vida vamos à Constituinte", termina, agitando o dedo ante os chifres das indiferentes vacas.

Admito que caitituar apoio entre as vacas é o menor dos defeitos de Maduro. Sua gestão é o mais completo desastre sob todos os pontos de vista: desrespeita as regras democráticas, gera uma crise econômica e social sem paralelo na história, é incapaz de controlar minimamente a violência, seja da criminalidade seja de suas tropas de choque igualmente criminosas.

Até um ícone da esquerda, o linguista Noam Chomsky, em entrevista para "Democracy Now", considerou o caso da Venezuela "realmente desastroso".

E, no entanto, a esquerda brasileira continua apoiando ou, ao menos, silenciando a respeito do desastre. Torna-se, com isso, sócia do fracasso.

O candidato ou candidatos que a esquerda pretende apresentar em 2018, farão também discursos para as vacas e conversarão com passarinhos? Já não é uma questão ideológica, mas de adesão ao cretinismo.


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