Folha de S. Paulo


Venezuela 'versus' Macri, saia justa no Mercosul

A eleição de Mauricio Macri na Argentina, duas semanas exatas antes do pleito parlamentar na Venezuela, tende a criar a situação que o governo brasileiro mais gostaria de evitar: que a eleição venezuelana, seja qual for o resultado, se transforme em fonte de conflitos e debates na América do Sul.

O debate está preanunciado por Macri, ao reiterar, após a vitória, a sua intenção de levar à cúpula do Mercosul, dias após a sua posse, proposta para que a Venezuela seja enquadrada na cláusula democrática do bloco.

Macri acusa a Venezuela de ser antidemocrática, por manter presos políticos, especialmente o líder opositor Leopoldo López, cuja mulher, Lilian Tintori, festejou a vitória de Macri no QG do agora presidente eleito.

O governo brasileiro não tem ainda posição a respeito da proposta Macri. Quer, como é natural, esperar para ver o seu formato exato.

Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático de Dilma Rousseff, admite que a simples apresentação da proposta criará uma saia justa no bloco. Mas, conforma-se, "não será a primeira com que o Mercosul lidou".

A posição brasileira sobre a votação na Venezuela foi exposta em carta da presidente Dilma Rousseff a seu colega Nicolás Maduro, da qual Marco Aurélio foi o portador.

Maximiliano Luna/Xinhua
(151122) -- BUENOS AIRES, noviembre 22, 2015 (Xinhua) -- El candidato presidencial del Frente Cambiemos, Mauricio Macri (c), reacciona en el búnker de campaña, en Buenos Aires, Argentina, el 22 de noviembre de 2015. El candidato oficialista Daniel Scioli reconoció la derrota y felicitó públicamente al
Macri comemora vitória em eleição presidencial com a mulher e a filha

Ele se recusa, como é óbvio, a entrar em detalhes, limitando-se a dizer que transmitiu "opiniões e percepções sobre o processo eleitoral, com total respeito à soberania venezuelana".

O portador acha que Maduro foi "sensível" às observações feitas, mas, como estas não vazaram, não dá para saber o que isso significa.

O Brasil, de todo modo, designará dois embaixadores para se integrarem à missão de acompanhamento eleitoral da Unasul para o pleito venezuelano.

É claramente um tapa-buraco, depois que o Tribunal Superior Eleitoral se recusou a participar da missão por achar que a Venezuela não atendeu às condições essenciais para uma observação adequada.

Venezuela à parte, o governo brasileiro não espera problemas no relacionamento com Macri, por mais que as relações com o kirchnerismo agora derrotado fossem fortes.

Dilma falou ontem com o presidente eleito da Argentina, que reiterou seu desejo de fazer do Brasil o primeiro país a visitar.

Agora, Marco Aurélio vai entender-se com a assessoria de Macri para verificar se é possível que a visita se dê ainda antes da posse (10 de dezembro) ou se terá que ficar para depois dela.

Em outros pontos da agenda externa presumida ou anunciada por Macri, Marco Aurélio não vê nem dificuldades nem "uma surpresa desagradável".

Ponto a ponto:

- Aproximação com a Aliança do Pacífico, o bloco formado por Chile, Colômbia, México, Peru e Costa Rica, mais liberal do que os do Mercosul: o bloco do Sul já havia decidido se aproximar.

- Acordo com a União Europeia: o Brasil já havia convencido Cristina Kirchner a apresentar uma proposta conjunta, o que foi feito. Macri, no máximo, terá maior inclinação à concessões aberturistas. Marco Aurélio acredita que o problema da negociação está agora mais do lado europeu do que do sul-americano.


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