Os atentados de Paris subverteram por completo a pauta do G20, o grupo das 20 maiores economias do mundo cujo foco é prioritariamente a economia.
O anfitrião, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, já havia colocado o terrorismo como tema central para o jantar que abre a cúpula hoje, 15.
"Essa sessão vai ganhar um peso extra", diz, por exemplo, Marco Aurélio Garcia, o assessor diplomático da presidente Dilma Rousseff (que tomou conhecimento dos atentados durante o voo).
Marco Aurélio de certa forma expressa a perplexidade dos dirigentes globais diante dos locais atingidos e da violência desatada:
"Demonstra claramente que um grupo relativamente pequeno de pessoas tem capacidade de provocar tremendo estrago".
Mais: "Trata-se da pior versão de terrorismo, pois não se volta contra símbolos do Estado, mas contra a sociedade". O que é explicável, na lógica enlouquecida dos terroristas: não se trata de derrotar o inimigo mas de provocar pânico.
O objetivo já foi alcançado, constata Ángel Gurria, secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico:
"Ninguém pode se sentir confortável e fora de alcance, sejam indivíduos, empresas, países e regiões".
No discurso que Dilma fará na sessão sobre terrorismo dirá que não há justificativa ética, moral ou religiosa para o terrorismo.
Feita essa observação essencial, Marco Aurélio pede, no entanto, "uma reflexão sobre as origens mais profundas do fenômeno".
O assessor presidencial admite que o esforço militar terá que ser acentuado, em função do que houve em Paris. Já Gabriela Ramos, negociadora da OCDE na cúpula do G20, pede uma coordenação global mais intensa: "O terrorismo é transnacional e exige resposta coordenada internacionalmente".
Ecoa Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu (máxima instância comunitária): "Vamos garantir que a estratégia europeia contra o terrorismo estará à altura de responder aos desafios dos próximos meses".
Fácil de dizer, difícil de executar. Marco Aurélio, por exemplo, por mais que admita a lógica do aumento do esforço militar, diz que ele não tem funcionado.
"Ao contrário, tem ajudado a desestabilizar regiões como o Norte da África [alusão em especial à Líbia] e o Oriente Médio", completa.
Por mais que essa avaliação faça sentido, é difícil para o resto do mundo entender as razões profundas do terrorismo, se é que há mesmo razões mais profundas ou se trata apenas de fanatismo.
Como disse o primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu, "esses ataques não são apenas contra o povo francês, mas contra toda a humanidade, a democracia, a liberdade e valores universais".
Ou, posto de outra forma, o que está em jogo é um conflito de valores, em que um lado não respeita nem a vida do outro quanto mais "valores universais".
Por isso, é improvável que Tusk tenha razão ao dizer que a estratégia europeia está à altura dos desafios. Pode até estar, mas os fatos de Paris instalaram um pânico global, como expôs Gurria.