Folha de S. Paulo


Cidades devem buscar eficiência energética

A busca por modelos sustentáveis passa, obrigatoriamente, pela eficiência energética das cidades, que hoje consomem aproximadamente 75% de toda energia despendida no mundo.

Tendo a eficiência energética como foco, o planejamento das cidades pode ser usado como grande aliado nesse importante esforço de encontrar alternativas que tornem eficiente o uso dos recursos naturais. Estudo publicado recentemente pelo departamento de Geociências da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, propôs medidas e políticas concernentes ao planejamento espacial das cidades e à redução do uso de energia.

O estudo é focado em três principais setores relacionados ao consumo energético: edifícios, indústria e transportes.

Uma das primeiras medidas propostas no trabalho publicado é otimizar a distribuição de energia, considerando a escala regional da cidade. Uma reavaliação dos modelos locais de adensamento, que possam contribuir para que se consiga uma cidade mais compacta, pode diminuir os custos de energia por habitante.

Outro ponto considerado importante é a orientação dos projetos urbanos tendo como objetivo as circunstâncias climáticas. Nesse aspecto, julgam-se relevantes as estratégias para melhorar o acesso ou a proteção à radiação solar, como a orientação dos edifícios e das ruas, as formas de sombreamento e ventilação, obviamente, respeitadas as condições climáticas e geográficas de cada região.

No que diz respeito aos transportes, conseguir reduzir a necessidade de viagens urbanas parece ser o foco principal. Nesse sentido, a recomendação é planejar áreas com dimensões suficientes para comportar uma boa mistura de usos, localizadas a distâncias que possam ser percorridas a pé dos núcleos residenciais, e que promovam, portanto, mais oportunidades para redução de viagens. Isso permite, também, que os núcleos de comércio e serviços mantenham-se economicamente viáveis. A eficiência energética está definitivamente ligada a estruturas urbanas policêntricas.

Por outro lado, o desenvolvimento de uma rede eficiente, confortável e permeável de transporte público desestimulará o transporte individual, economizando energia e reduzindo os índices de poluição. Essa rede, combinada com nós de transportes intermodais, infraestrutura para ciclistas e caminhadas, produzirá um tecido urbano acessível e eficiente do ponto de vista energético.

Ainda, o planejamento e a implantação de "clusters" industriais aumentarão as oportunidades para a cogeração de sistemas de energia local, com benefícios substanciais, não só em termos de economia energética, mas também em termos de redução de emissões de carbono.

No entanto, enquanto as cidades podem ser internamente eficientes, o problema, muitas vezes, não está apenas naquilo que se consome dentro dos seus limites. Pequim, por exemplo, recebe seu abastecimento de água da bacia do rio Yangtze a 1.500 quilômetros de distância, o que significa um enorme dispêndio de energia. Existem muitos outros exemplos semelhantes.

Muitas cidades do mundo estão à procura de programas que possam alcançar significativa redução nos gastos com energia. Alguns são mais simples do que outros. Miami, por exemplo, descobriu que plantar árvores pode ajudar a reduzir as contas de ar-condicionado. No verão, uma árvore pode liberar na atmosfera até 400 litros de água todos os dias, o que pode arrefecer o ambiente.

De qualquer forma, todas as cidades devem rever seus modelos de planejamento, estruturá-los na busca da eficiência energética, e procurar instituir programas de fomento ao desenvolvimento de soluções para melhorar seu desempenho.


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