Folha de S. Paulo


Automação e polarização política afetam mercado imobiliário nos EUA

O mercado imobiliário americano sofreu grave crise em 2008, com reflexos importantes nos mercados de todo o mundo, e permanece em processo de recuperação desde 2013.

Recente pesquisa publicada pelo CRE (Counselors of Real Estate) levanta os principais aspectos que poderão direcionar esse mercado num futuro próximo.

Segundo o estudo, a polarização política e a incerteza global devem exercer grande influência nas decisões dos maiores "players" do mercado, com consequências negativas imediatas para o setor imobiliário. A incerteza quanto às mudanças na política de comércio, viagens e imigração ameaça as propriedades de investimento transfronteiriço, hoteleiras, de varejo e indústria, entre outros efeitos.

Uma onda sem precedentes de inovações tecnológicas implicará em alterações profundas na maneira como os imóveis serão comprados, vendidos e administrados. As experiências com aprendizagem robótica têm demonstrado que máquinas adquirem novas habilidades e se adaptam ao ambiente, fatores que podem acelerar a automação do local de trabalho.

Este ano, demonstrou-se que robôs são capazes de trabalhar em equipe e aprender com vídeos, dependendo cada vez menos de programadores humanos especializados. Espera-se que 30% dos empregos bancários desapareçam na próxima década. Há, inclusive, um importante estudo de automação da McKinsey & Company sugerindo que até 47% dos empregos existentes hoje poderão ser substituídos pela automação.

Existe uma forte tendência de transformação das operações normais de varejo em experiências virtuais cada vez mais sofisticadas, voltadas para diversos grupos etários e de diferentes interesses.

Focados no transporte eficiente de mercadorias, os varejistas tradicionais começam a mudar seus padrões de operação para criar novos armazéns, novos métodos de distribuição e modelos de atendimento.

Não é segredo que os EUA tenham sido "sobrecarregados" por décadas. Segundo estudo recente da Cowan and Company, lá existem 40% mais espaços de compras per capita do que no Canadá, cinco vezes mais do que no Reino Unido e dez vezes mais do que na Alemanha.

O desequilíbrio entre oferta e demanda de moradias nos últimos anos resultou em aumento nos preços dos imóveis residenciais, e consequente diminuição da acessibilidade para muitos compradores, particularmente aqueles com baixa renda.

Problema especialmente grave é o crescente hiato entre oferta e demanda de habitação em locais com crescimento significativo do emprego, particularmente nas principais áreas metropolitanas e regiões costeiras. Aqueles que trabalham com tecnologia, finanças e outros campos altamente remunerados monopolizaram os produtos novos, tanto na compra como na locação. Isso provoca aumento dos preços e dificuldade para os trabalhadores com salários menores e desempregados adquirirem moradias.

Ocupantes de edifícios exigem cada vez mais que os seus espaços sejam projetados, construídos e capazes de operar e promover resultados positivos para a saúde, pois passam 90% do tempo dentro deles. Pesquisa da Mayo Clinic conclui que apenas 20% da saúde vêm dos cuidados tomados individualmente para mantê-la; fatores ambientais e comportamentais representam 40%. A evidência da importância dessa tendência é que a maioria dos principais grupos profissionais imobiliários tem aumentado recentemente o foco na concepção de edifícios saudáveis.

A grande maioria desses conceitos avaliados no âmbito do mercado norte-americano é aplicável em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Levar em consideração essas questões pode nos auxiliar a construir um mercado imobiliário sólido e competitivo nos próximos anos.


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