Folha de S. Paulo


Inovação é ingrediente básico para qualidade de vida sustentável

As cidades podem atrair pessoas e negócios, estimular a cultura e servir como vetor de progresso. Contudo, seu desenvolvimento vem sempre associado a novas demandas, que influenciam diretamente a vida de seus habitantes. Superar esses desafios é uma tarefa árdua e complexa, mas, sem isso, dificilmente conseguiremos qualidade de vida nas cidades.

A Bloomberg Filantropies realiza um concurso anual envolvendo prefeitos das cidades em todo o mundo, com o objetivo de buscar ideias inovadoras que possam resolver problemas da vida urbana. Dentre os projetos vencedores, há muitas ideias que podem ser adaptadas e utilizadas para ajudar outras cidades a superar suas dificuldades e a melhorar seu desempenho.

Um desses projetos veio de Houston, nos EUA, e procura resolver as dificuldades associadas à reciclagem de lixo. Em muitas cidades do mundo, as taxas de reciclagem do lixo estagnaram. Nos Estados Unidos, a média nacional de reciclagem é de 35% e em Houston somente 16% do lixo é reciclado. A ideia é coletar todo o lixo, orgânico e inorgânico conjuntamente e, por meio de processamento automático com uma nova tecnologia, separar os produtos que podem ser reciclados e monetizados. A planta de reciclagem seria financiada pelo resultado da operação, com investimento inicial viabilizado por meio de parceria público-privada.

Outra ideia surgiu em Kirkless, cidade com 400 mil habitantes na Inglaterra. Baseados no fato de que muitos recursos municipais e mesmo privados (equipamentos, espaços e habilidades) permanecem por muito tempo sem serem utilizados, a proposta foi criar uma plataforma digital que tornasse possível o compartilhamento racional desses ativos, com grupos organizados da comunidade. Um time da municipalidade age como facilitador nessas atividades, para garantir a segurança das operações.

Qualidade de vida foi o projeto trazido por Santa Monica, na Califórnia, procurando maneiras de entender o que realmente faz diferença na vida de seus habitantes. Por intermédio de pesquisas específicas sobre bem-estar, dados disponíveis na cidade, além daqueles obtidos por sensores ou nas mídias sociais, são identificados, analisados e transformados em ações que melhorem a qualidade de vida, a eficiência pública operacional e ampliem o envolvimento entre cidadãos e governo.

O engajamento da população na luta contra as mudanças climáticas foi a proposta de Estocolmo, na Suécia, com o biochar, um tipo de carvão produzido a partir de resíduos orgânicos vegetais, que tem a capacidade de sequestrar carbono da atmosfera. A prefeitura recolhe os resíduos dos jardins das casas, produz o biochar e devolve à população ou distribui pelos jardins da cidade, para ser utilizado como fertilizante, mas agora também como forma de sequestrar carbono, envolvendo os cidadãos diretamente no auxílio à diminuição das mudanças climáticas.

A conexão digital da comunidade em plataformas voltadas para solução de problemas da cidade foi a ideia de Atenas, na Grécia. Cidadãos levantam problemas e submetem propostas de solução via web, que são avaliadas pelo governo e a câmara municipal, organizações não-governamentais e iniciativa privada, envolvendo diretamente aqueles que podem, de alguma forma, ajudar a tornar as ideias em realidade.

Não restam dúvidas de que avanços são necessários para atender as expectativas dos cidadãos, atrair investimentos e melhorar a qualidade de vida nas cidades. Não existem soluções universais que sirvam para todos os municípios, pois cada cidade possui diferentes processos, problemas e objetivos. Contudo, um planejamento estratégico correto e ideias inovadoras serão os ingredientes básicos para o sucesso na obtenção de qualidade de vida sustentável.


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