Folha de S. Paulo


As transformações que podem mudar o ambiente de negócios imobiliários

Novas tecnologias se desenvolvem em velocidade crescente e devem, em muitos aspectos, mudar a maneira como o solo urbano é utilizado.

A digitalização das informações é um fato irreversível. Cada vez mais, os municípios se preocupam em coletar informações, por meio de veículos e equipamentos públicos dotados de sensores, pesquisas e modelos de compartilhamento de dados, dentre outros mecanismos. Mas deverão se preocupar também em consolidá-las em formatos que possam ser utilizados de forma cruzada pelos diversos setores da sociedade.

A implantação de mecanismos como esse deverá criar uma revolução no acesso e intercâmbio de informações. O resultado será a disponibilidade de uma enorme quantidade de dados, extremamente valiosos, para que se possa obter uma melhor estruturação do tecido urbano e alavancar o desenvolvimento planejado, em bases sólidas, para a indústria imobiliária.

Hoje, praticamente não existem veículos autônomos. Mas, segundo previsões de especialistas, dentro de 25 anos quase 80% dos veículos rodando nas ruas das cidades serão autônomos e compartilhados. As cidades deverão prever centros regionais adaptados para guarda desses veículos, que seguramente não serão nas regiões mais valorizadas. Os novos empreendimentos imobiliários praticamente não necessitarão mais de espaços para guarda de veículos. Isso significa também que os espaços hoje utilizados como garagens deverão ser reestruturados para outros usos.

Os postos de combustível não terão mais utilidade, e todo espaço que ocupam atualmente será colocado no mercado, para ser utilizado de outras formas. São Paulo tem hoje 1.800 postos de gasolina, normalmente em pontos nobres da cidade. Se considerarmos uma média de 2.500 metros quadrados de área em cada um, serão colocados de volta no mercado imobiliário mais de quatro milhões de metros quadrados.

O "Hyperloop" é um sistema de tubos pneumáticos, montados sobre uma estrutura apoiada no solo, que pode transportar pessoas e carga a uma velocidade de 1.200 km/h. Isso significa ir de São Paulo ao Rio de Janeiro em 20 minutos.

Esse sistema, tecnologicamente já desenvolvido e testado, pode estar operacionalmente funcionando em algum lugar do mundo em quatro anos. O impacto nas cidades e no mercado imobiliário será tremendo. Mudam radicalmente os conceitos de mobilidade, acessibilidade e localização, que têm sido fundamentais até hoje nos modelos de avaliação e planejamento imobiliário. Morar a 200 km do local de trabalho pode não ser um problema, já que o tempo de deslocamento será de apenas dez minutos.

As impressoras 3D já começaram a provocar importantes transformações na indústria. Com singularização e rapidez, podem ser fabricados produtos de modo personalizado, de tal forma a mudar radicalmente os conceitos de produção em escala nos próximos anos. Na indústria da construção civil, o uso de impressoras 3D já é uma realidade, e sua utilização deve aumentar bastante nos próximos anos, causando impactos não menos importantes.

Agora, introduziremos nas edificações uma quarta dimensão, o tempo. Em Dubai, por exemplo, um arranha-céu projetado pelo arquiteto David Fisher é referido como um edifício 4D. Cada um dos 80 andares da torre irá rodar de forma independente, resultando em uma forma de construção em constante mudança, e possibilitando que em cada apartamento seja possível ter uma visão de 360° do entorno. Sem dúvida, a exploração das diversas formas de relacionar os edifícios com movimentos e com o tempo trará alterações profundas na construção civil e no mercado.

As transformações estão aí, e devemos nos preparar para mudanças radicais no ambiente dos negócios imobiliários.


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