Folha de S. Paulo


Número de moradores de rua em São Paulo dobra em menos de 20 anos

Uma questão urbana complexa e de difícil solução, os moradores de rua não são um fenômeno exclusivo dos países menos desenvolvidos. Na Europa, existiriam, hoje, três milhões de pessoas que vivem ao relento.

Contudo, não existem dúvidas de que esse é um problema com maior dimensão nos países mais pobres. Somente na Nigéria, por exemplo, esse número chega a 24 milhões. Sob a ótica global, a Comissão de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) estima que existem no mundo 100 milhões de pessoas vivendo nas ruas.

Inúmeras são as razões para que as pessoas estejam nessa condição. Desemprego, programas habitacionais inadequados, violência doméstica, falta de apoio familiar, abuso de drogas, alcoolismo, doenças mentais e muitas outras causas contribuem para a permanência e o crescimento desse lamentável estado de coisas nas grandes cidades.

Um problema multifacetado como esse, com diversas origens e uma constituição complexa, conduz a uma solução também muito difícil de ser equacionada e implementada. Nova York, por exemplo, uma das maiores e mais ricas cidades do mundo, em que pesem todos os esforços das autoridades, viu sua população de rua mais que dobrar nos últimos 15 anos. Hoje são 63 mil sem-teto vivendo na cidade.

No Brasil, a situação não é diferente. Embora não existam dados oficias sobre a quantidade de moradores de rua no país, somente na cidade de São Paulo, levantamento da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) divulgado em abril de 2016, identificou 15,9 mil pessoas vivendo em situação de rua. Quase o dobro do existente no ano 2000.

O que fazer? Parece claro que ainda não existem soluções eficientes o bastante para resolver definitivamente o problema.

A primeira ação que surge como encaminhamento da solução é a retirada das pessoas das ruas. Embora pareça óbvia, esta ação isolada não fará com que as pessoas permaneçam fora da ruas. Para isso, seria necessário, além da realocação, dar a elas também o que retiram das ruas, ou seja, sustento, sobrevivência e, por incrível que possa parecer, certa convivência social.

Por essa razão, o conhecimento profundo do perfil dessas pessoas poderá ser fundamental para a construção das soluções mais eficientes, desde o albergamento adequado até ações complementares, sem as quais o problema não se resolve.

O último censo realizado na cidade de São Paulo revela dados interessantes sobre o perfil de seus moradores de rua.

Aproximadamente 40% dessa população têm idade entre 30 e 50 anos, e 82% são homens.

Do total de entrevistados que moram nas ruas, 74% declararam fazer bicos para sobreviver. Catadores de recicláveis são 42%, e 32% têm atividades divididas entre flanelinha, ajudante geral, pintor e mesmo no comércio ambulante. O restante não trabalha e sobrevive da mendicância.

Esses dados parecem indicar que o albergamento deve ser adequado, tanto do ponto de vista da preparação do espaço físico quanto do funcionamento compatível com as características pessoais específicas da população atendida.

Especial atenção deve ser dada à saúde mental, que tende a deteriorar-se quanto maior o de tempo de permanência nas ruas.

Além disso, o modelo deve estar aliado a um esquema de sobrevivência pelo trabalho, que deve ser diverso o suficiente para ajustar-se aos diferentes perfis sociológicos e vocacionais.

Aplicativos que permitam à população indicar locais de permanência de desabrigados ao serviço público e a emissão de títulos sociais por instituições filantrópicas, entre outras, são inovações a serem desenvolvidas.

Não menos importante será adotar políticas e ações sociais preventivas, para minimizar o número de novas pessoas abrigadas nas ruas.

O problema é realmente complexo. Porém, há alternativas para iniciar a trajetória por um caminho em direção à solução vitoriosa.


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