Folha de S. Paulo


Como preparar as cidades para uma população que envelhece rápido?

Praticamente todos os países do mundo estão vivenciando o aumento do número e da proporção de pessoas idosas na população.

Entre 2015 e 2030, a quantidade de pessoas, no mundo, com 60 anos ou mais deve crescer 56%, saindo de 901 milhões para 1,4 bilhão, quantidade superior à de crianças entre zero e nove anos. Em 2050, as projeções indicam que a população global de idosos será maior que o dobro da atual, atingindo quase 2,1 bilhões.

Com o avanço da ciência e da medicina, as pessoas vivem mais tempo e com mais qualidade de vida. Isso faz com que seja necessária uma nova divisão na categoria dos idosos, classificando como "mais velhos" aqueles com idade superior a 80 anos.

O número de "idosos mais velhos" vem também crescendo rapidamente e, em 2050, deverá triplicar, atingindo a marca de 434 milhões de pessoas.

Essa mudança demográfica será, sem dúvida, uma das mais significativas transformações sociais deste século, com implicações em todos os setores, como habitação, saúde, transportes e infraestrutura urbana, além das alterações socioeconômicas.

A preparação das cidades para essas mudanças associadas ao envelhecimento populacional é essencial para garantir avanços de sustentabilidade e qualidade de vida. Para isso, precisamos de ações que possam formatar uma cidade que respeite as necessidades dos mais velhos e os encoraje a vivenciar os espaços urbanos, sem qualquer tipo de segregação.

Os "idosos mais velhos", por exemplo, usarão transportes públicos e farão caminhadas ao invés de dirigir. Portanto, vizinhanças amigáveis deverão reduzir as distâncias entre os pontos de acesso ao transporte e às lojas, os bancos para descanso e os banheiros públicos.

O conceito de cidade compacta estará cada vez mais presente numa sociedade que envelhece, levando a um sistema de transporte público mais eficiente e barato, melhorando, portanto, o acesso aos serviços, ao trabalho e lazer.

Caminhar com segurança pela cidade é fundamental para os idosos. Assim sendo, além de garantir pavimentos adequados, deve haver foco na eliminação de barreiras como calçadas estreitas, degraus ou superfícies escorregadias.

Em Manchester, a primeira cidade do Reino Unido a ser reconhecida como amigável a idosos pela OMS (Organização Mundial da Saúde), pessoas mais velhas são treinadas no Manchester Institute for Collaborative Research on Aging (Micra) para pesquisar sobre o que pode tornar uma cidade mais amigável aos idosos. Eles descobriram que, para a maioria das pessoas, o mais importante é o contato humano, seguido da tecnologia de ponta, que fornece equipamentos fundamentais para facilitar a vida diária dos mais velhos nas cidades.

Existem no mundo, hoje, cerca de 47 milhões de idosos com doenças relacionadas à deficiência cerebral, como Alzheimer. Esse número deverá dobrar em 20 anos.

Países como Japão e Inglaterra desenvolvem programas para que idosos com esse tipo de deficiência continuem engajados na vida urbana, ao invés de serem excluídos do convívio social.

Esses programas envolvem treinamento da população e, principalmente, atendentes de lojas, bancos, museus e serviços públicos, para que possam entender, reconhecer e dar assistência àqueles idosos com diferentes níveis de deficiência cerebral.

Preparar-se para encarar o desafio dessa alteração demográfica e tornar as cidades amigáveis aos idosos quem sabe seja mais profundo do que possamos imaginar. Talvez o caminho seja olhar menos para a decadência física e as incapacidades e mais para as mudanças, potencialidades e geração de oportunidades.


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