Folha de S. Paulo


Uma breve história da urbanização

Petros Giannakouris-25.ago.2011/Associated Press
ORG XMIT: ATH107 Tourists walk in front of the 2,500-year-old Parthenon temple, on the Acropolis Hill in Athens, Thursday, Aug. 25, 2011. Interest rates on debt-hobbled Greece's 10-year bonds climbed to a new record of above 18 percent Thursday amid concerns that demands for collateral in return for rescue loans could undermine the country's latest rescue package. Tourism is a key earner for Greece, and officials say arrivals increased more than 10 percent this season. (AP Photo/Petros Giannakouris)
Turistas caminham em frente ao Parthenon, em Atenas

A urbanização, com importantes consequências nos aspectos políticos, sociais, e econômicos, foi uma das alterações mais significativas da evolução humana.

A origem das cidades tem sua gênese na criação e no desenvolvimento dos grupos de horticultores e pastores quando, de forma consistente, começaram a produzir mais alimentos do que poderiam consumir. Isso possibilitou às pessoas permanecerem em um mesmo local, ao invés de ficarem continuamente em movimento à procura de comida.

Existem evidências de que o primeiro núcleo urbano do mundo pode ter sido a cidade de Jericó, no ano 9.000 a.C., às margens do rio Jordão, que abrigava aproximadamente duas mil pessoas.

Todavia, esse processo de urbanização, no qual as comunidades rurais começaram a crescer para formar cidades, começou na Mesopotâmia, por volta do ano 4.300 a.C., quando às margens do rio Eufrates formou-se a comunidade de Uruk. Em 3.800 a.C., também às margens do mesmo rio, estruturou-se a cidade de Ur.

Por volta de 2.900 a.C., Ur foi murada e já tinha uma população de aproximadamente 65 mil pessoas. A urbanização, no entanto, continuou à medida que a cidade se expandia do centro e, com o tempo, os campos que, outrora férteis, alimentavam a população, foram se esgotando.

O uso excessivo do solo, combinado com um deslocamento misterioso do rio Eufrates, acabou fazendo com que a cidade fosse abandonada em 500 a.C. O mesmo aconteceu com Uruk por volta de 650 a.C.

A partir da Mesopotâmia, a urbanização espalhou-se para Egito, Grécia, Roma, China e outras regiões, juntamente às lições aprendidas em Ur e Uruk.

As cidades gregas não seguiram um único padrão. Muitas vezes tinham uma forma irregular, adaptando-se gradualmente aos acidentes topográficos. Já as cidades coloniais foram planejadas antes do assentamento, usando um sistema de malha retangular, cujo modelo dividia o terreno urbano em lotes retangulares uniformes, adequados ao desenvolvimento.

A maior das cidades antigas foi Roma, com quase um milhão de habitantes, que se desenvolveu calcada em várias estruturas das cidades modernas, como ruas, mercados, arenas, parques e mesmo sistemas de saneamento.

Já as cidades medievais eram pequenas em tamanho, estavam sempre sujas e as doenças espalhavam-se rapidamente. A terra era muito cara, pois as cidades não podiam expandir em função das muralhas. Em alguns casos, os governos demoliram os muros e os reconstruíram mais à frente, o que, além de criar mais espaço urbano, equilibrava o preço da terra com maior oferta.

Durante a Renascença, os arquitetos começaram a estudar sistematicamente a formação do espaço urbano, como se a própria cidade fosse uma peça arquitetônica que pudesse receber uma ordem esteticamente agradável e funcional. Partes das cidades foram reconstruídas para criar praças elegantes e arranjos de construção simétricos.

O processo de urbanização não se tornou expressivo, senão no século passado. Três por cento da população mundial viviam em centros urbanos até o ano de 1800. Um século depois, em 1900, 14% representavam a população urbana e 12 cidades do mundo tinham população superior a um milhão de pessoas. Mais 50 anos, em 1950, a população urbana havia dobrado e o número de cidades com mais de um milhão de habitantes crescera seis vezes.

Hoje, mais da metade da população mundial vive em áreas urbanas e, em 2030, quase dois terços da população mundial deve viver nas cidades.

O processo de urbanização é irreversível e caminha a passos largos. As cidades não têm alternativas, a não ser estruturarem-se para receber de forma organizada e sustentável todo esse contingente de pessoas.


Endereço da página: