Folha de S. Paulo


Quebrar ciclo de pobreza é vital para resolver problemas urbanos de SP

São Paulo é uma cidade vibrante. Centro de negócios, de comércio e serviços, com atrações culturais, gastronômicas e de lazer, onde moram pessoas das mais diferentes origens étnicas e raciais.

Por outro lado, muitas regiões da cidade estão envoltas por pobreza, e seus moradores submetidos a problemas relacionados a altas taxas de criminalidade, congestionamentos, poluição, enchentes, falta de acesso à saúde e à educação, entre tantos outros.

As cidades são constituídas por um grande número de pessoas vivendo em um espaço relativamente pequeno. Algumas dessas pessoas têm recursos financeiros suficientes para uma vida com qualidade, mas uma grande parte, infelizmente, não tem a mesma sorte.

São Paulo deve prover os serviços necessários a todos os cidadãos. Mas, sem dúvida, os mais pobres merecem maior atenção. Como fazer isso?

Talvez, o primeiro aspecto a ser considerado seja o financeiro e, aí, os problemas fiscais ficam evidentes. Sem recursos não será possível solucionar os problemas da cidade.

As dificuldades fiscais rotineiras da cidade tornam-se mais evidentes em períodos de crise econômica acentuada, como a que ora atravessamos. Devemos desenvolver mecanismos de controle para equilibrar as contas e encarar com criatividade as alternativas para manter e melhorar as funções da cidade, gerar negócios e criar empregos.

Além disso, é indispensável criar instrumentos inteligentes e flexíveis o suficiente para gerar receitas e equacionar despesas, sem prejudicar os objetivos de desenvolvimento. As parcerias público-privadas têm demonstrado ser um instrumento bastante eficiente para viabilizar projetos de interesse da população.

A segunda questão prioritária é habitação. Não temos a produção necessária a custos compatíveis com a renda das pessoas que necessitam de moradia.

O problema não é novo, e a falta de uma solução definitiva tem agravado a situação. Certamente, não existirá uma saída única para essa questão, mas sim uma somatória de alternativas que possam ajudar a resolver definitivamente esse assunto.

Enquanto o padrão mínimo de renda de nossa população mais pobre não se eleva, os subsídios são inexoráveis. Contudo, a forma como eles serão empregados pode mudar radicalmente a eficácia das soluções aplicadas.

Mobilidade é outro problema grave na cidade e, neste caso, independe do padrão de renda. Porém, ele se agrava para a população que necessita usar diariamente o sistema de transporte público.

Novamente, a solução para a falta de mobilidade na cidade não é única. É composta por uma somatória de ações, que envolvem desde investimentos maciços em redes de transporte público e medidas para melhoria da operação das redes existentes, até modelos de ocupação da cidade que permitam menos deslocamentos diários.

Bem, a cidade tem, realmente, muitos problemas, mas o maior deles talvez seja o ciclo da pobreza.

As pessoas têm rendimentos baixos porque os seus empregos não são bem remunerados ou porque estão desempregadas. Por conseguinte, não podem viver em uma boa vizinhança. Isso significa que elas têm condições insatisfatórias de vida. Devido a essas condições, elas têm estresse e saúde precária.

Muitas vezes, isso leva às drogas e ao crime. Além disso, há falta de uma adequada estrutura educacional nesses bairros. Assim, os jovens têm poucas oportunidades de futuro, e as condições pioram, e há menos empregos e oportunidades. Os jovens saem da escola muito cedo porque não têm boas perspectivas de vida e essas condições fazem aumentar o crime e a pobreza, e o ciclo vai se retroalimentando.

Quebrar esse ciclo de pobreza é fundamental para resolver os problemas urbanos de São Paulo. Se esse não for o enfoque de nossos governantes, dificilmente poderemos ter uma cidade que funcione e seja, ao mesmo tempo, vibrante economicamente e socialmente inclusiva.


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