Folha de S. Paulo


Estudo mapeia uso do transporte público nas cidades

Joel Silva-25.fev.09/Folhapress
Passageiros tentam embarcar na estação Sé do metrô
Passageiros tentam embarcar na estação Sé do metrô

Parece ser inevitável que as grandes cidades caminhem na direção de estruturar a mobilidade urbana com foco no transporte público. E uma boa maneira de estimar a acessibilidade ao transporte de massa é conhecer o número de pessoas que moram ou deveriam morar a distâncias inferiores a mil metros de conexões com transporte rápido de qualidade.

Em função disso, foi criado o índice PNT (People Near Transit). O indicador poderá ajudar os planejadores a visualizar onde novas linhas de transporte devem ser implantadas, monitorar a evolução e o comportamento das linhas existentes, além de ser um parâmetro de comparação entre cidades.

O desenvolvimento do PNT permitiu importantes descobertas acerca da correlação entre crescimento urbano e acessibilidade ao transporte.

Uma delas diz respeito à comparação entre o município e sua região metropolitana. Nesta última, existe uma queda significativa na acessibilidade ao transporte, na média aproximada de quase metade quando comparada ao município. Isso indica que a expansão urbana está ocorrendo com velocidade maior que o necessário investimento em transporte.

O ITDP (Institute for Transportation and Development Policy) acaba de publicar um estudo comparativo, e também de avaliação, dos PNT de 26 cidades e suas respectivas regiões metropolitanas. Entre elas, estão as brasileiras São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, além de Paris, Londres, Nova York, Seul, Beijing, Jacarta, Buenos Aires e Joanesburgo, permitindo, assim, alcançar uma visão global dessa questão.

Segundo o estudo, a cidade com o maior percentual de pessoas localizadas a menos de mil metros das conexões com transporte de massa é Paris, com 100%, seguida por Barcelona (99%), Madrid (92%) e Londres (91%).

Das cidades brasileiras pesquisadas, Rio de Janeiro apresentou 47%, Belo Horizonte 28%, São Paulo 25% e Brasília 17%.

Cabe destacar que entre as cidades sul-americanas pesquisadas, Quito e Buenos Aires apresentaram 41% e 65%, respectivamente.

Esses resultados nos permitem avaliar as condições de acessibilidade ao transporte de massa nas cidades brasileiras, em comparação com o mundo inteiro, ficando clara a distância de parâmetros razoáveis, mostrando que há muito a fazer nesse sentido.

Outra conclusão importante do estudo foi a correlação entre os maiores percentuais de PNT e as cidades com maiores densidades populacionais. Embora essa tendência não seja completamente linear, esse efeito é especialmente notado nos extremos.

Interessante notar que, nos países mais desenvolvidos, a diferença dos percentuais de PNT entre o município e sua região metropolitana é maior do que nos países em desenvolvimento. Os dados também mostram que existem mais pessoas vivendo nas regiões metropolitanas do que no município central e, portanto, os moradores do entorno das grandes cidades convivem com maior deficiência de acessibilidade ao transporte de massa.

O estudo avaliou ainda, nas cidades brasileiras pesquisadas, a relação entre PNT e renda, demonstrando que as pessoas com menor renda têm menos acesso ao transporte de massa. Nas regiões onde a renda das pessoas é superior a quatro salários mínimos, o PNT é, em média, três vezes superior ao das regiões onde a renda é igual ou inferior a um salário mínimo.

Enfim, temos ao nosso alcance um relevante indicador de acessibilidade ao transporte de massa, que pode ser usado como importante meio de aferir a equidade social, no que tange à mobilidade.


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