Folha de S. Paulo


É possível prever o crescimento das cidades?

Rickey Rogers/Reuters
Paisagem de Manhattan ao pôr do sol, com o One World Trade Center
Paisagem de Manhattan ao pôr do sol, com o One World Trade Center

Estimativas apontam para a concentração urbana de 70% da população mundial em 2050. Todavia, prever exatamente como isso ocorrerá tem sido uma tarefa extremamente difícil, uma vez que, além do crescimento populacional, os modelos de migração e imigração dependem das decisões tomadas por milhões de pessoas, considerando aspectos como oportunidades de emprego, qualidade de vida e segurança.

Esse padrão de comportamento, aparentemente independente das pessoas, pode não representar os fundamentos para a previsão do crescimento das cidades.

Alberto Hernando de Castro, físico da Escola Politécnica Federal de Lausanne, publicou um estudo sugerindo que todas as cidades se comportam de maneira coerente e podem existir regras simples que governam o crescimento urbano. Sua compreensão poderia auxiliar as autoridades municipais a planejar ações compatíveis com as necessidades de crescimento.

O estudo analisou informações sobre a população coletadas pelo Instituto Nacional de Estatísticas da Espanha, a partir de 8.100 municípios, entre os anos de 1900 e 2011, incluindo um total de 45 milhões de pessoas. Esses dados foram usados na construção de um modelo de simulação da dinâmica populacional.

A operação do modelo revelou duas tendências importantes. A primeira é que a forma de crescimento futuro da cidade depende de como ela se desenvolveu no passado.

Os resultados sugerem que as cidades espanholas têm a "memória de desenvolvimento" de aproximadamente 15 anos. Isso quer dizer que, em cidades com ao menos 10 mil habitantes e que possuam informações sobre seu desenvolvimento dos 15 anos anteriores, utilizando-se o modelo de simulação, será possível prever, com certa precisão, o padrão de crescimento dos 15 anos seguintes. A partir daí, as taxas de crescimento passam a não ter mais correlação com os dados anteriores.

A segunda tendência observada relaciona-se com o fato de que a taxa de crescimento de uma cidade depende das taxas de crescimento das cidades vizinhas.

Cidades distantes 80 quilômetros, aproximadamente, umas das outras podem ser consideradas como parte de uma rede, de tal forma que se uma delas cresce, existe uma grande possibilidade de que as outras crescerão proporcionalmente. Por outro lado, se a população de alguma delas diminui, acontecerá o mesmo com as demais.

Segundo Hernando de Castro, essa correlação entre as cidades decresce com a distância entre elas. Dessa forma, se duas cidades estão próximas, elas se desenvolverão de maneira similar; quando a distância entre elas aumenta, o desenvolvimento acontece de forma independente.

Embora o estudo tenha sido feito em cidades espanholas, pesquisadores suspeitam que regras similares influenciem o crescimento de todas as cidades, embora o período de "memória de desenvolvimento" e a distância passível de interação devam variar de local para local, de acordo com fatores econômicos e de transporte.

Todavia, continua ainda um mistério como a combinação de livres e imprevisíveis escolhas pelas pessoas pode gerar coletivamente modelos que se comportam com uniformidade.

Futuras pesquisas devem testar esse padrão em outros países, para determinar em quais situações existe coerência com os resultados obtidos. A partir daí, o modelo poderá ser aperfeiçoado para considerar, nas diversas localidades, a conjunção dos aspectos demográficos, sociais e econômicos.

O avanço desse estudo é importantíssimo para a evolução do planejamento urbano. Sem conhecer a expectativa de crescimento, fica muito difícil planejar, com eficiência, o futuro das cidades.


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