Folha de S. Paulo


Programas que deixem as áreas urbanas acessíveis a todos são urgentes

Terminam as paraolimpíadas no Brasil. Sucesso de público, de organização e de resultados. Porém, é importante lutar para que essa atenção dada aos deficientes nesse período se perpetue, não só em relação ao esporte, mas também às suas necessidades na vida diária.

Não é incomum a existência de barreiras às pessoas com deficiência nos espaços e edifícios públicos, falta de segurança, habitação e transportes não acessíveis, e toda sorte de obstruções que as impedem de desfrutarem plenamente as cidades, como todos os outros cidadãos.

Programas que inovem para transformar as áreas urbanas em inclusivas e acessíveis a todos, e permitam tornar as pessoas deficientes independentes, são urgentes.

Segundo relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde), estudo realizado em 59 países, dentre eles 20% de países ricos e 20% de países pobres, mostrou que 15,6% da população apresenta algum tipo de deficiência. O que agrava ainda mais a situação é que 80% das pessoas com deficiência habitam países em desenvolvimento, normalmente carentes de recursos e meios para equacionar adequadamente seus problemas.

Especialistas parecem convergir para o fato de que a solução habitacional das pessoas com deficiência é o primeiro passo na direção da conquista de seu direito de viver plenamente as cidades.

Para essas pessoas, morar com qualidade envolve não só a retificação das dimensões físicas e o desempenho dos imóveis, mas também a existência de condições financeiras e econômicas para a sua aquisição.

Principalmente em países mais pobres, onde mesmo as pessoas não deficientes têm dificuldades para obter uma moradia digna, a solução para esse problema torna-se ainda mais difícil. Contudo, mesmo consideradas as limitações existentes, mecanismos de proteção social devem ser desenvolvidos.

Talvez o primeiro passo para que se ultrapasse esse obstáculo seja o conhecimento preciso da demanda por habitação para deficientes, de forma regionalizada e estratificada, e em função do tipo de deficiência. Assim, será possível arquitetar programas de atendimento a essa demanda, por meio de parcerias público-privadas, de maneira equilibrada e economicamente viável.

Todavia, é importante que os levantamentos de dados incluam aspectos que relacionem a deficiência aos fatores sociais, econômicos, políticos e culturais, para que a solução habitacional seja, na medida do possível, também integrada a eles. Para as pessoas com deficiência, é importante viver com independência, em local próximo ao trabalho, a serviços, e com facilidades que permitam o desempenho de suas atividades diárias, se possível, perto de amigos e parentes.

Para que as cidades sejam inclusivas, é importante também compreender que aquilo que é bom para os deficientes visuais pode não ser adequado para os cadeirantes, e vice-versa. Ao planejar ações de atendimento a essa demanda é preciso ter ciência que existem vários tipos de deficiências que devem ser consideradas, como auditiva, amputações, deficiência intelectual etc. Cada grupo tem necessidades específicas a serem observadas na forma do apoio governamental, concessão de benefícios e planejamento de acesso aos serviços urbanos.

Os espaços urbanos estão divididos em públicos, como ruas, praças e parques; e semipúblicos, que compreendem shopping centers, áreas comuns de edifícios comerciais e ambientes semelhantes, além dos privados. Em todos os casos, é necessário que na concepção desses espaços sejam considerados os diversos tipos de deficiência, porque, de outra forma, não será possível resgatar e garantir a cidadania plena a essas pessoas.


Endereço da página: