Folha de S. Paulo


Ao se reconstruir, Hiroshima virou exemplo de desenvolvimento urbano

Muitas cidades têm dificuldades em lidar com os problemas relacionados ao desenvolvimento urbano –em especial aquelas que sofrem ou sofreram importantes desastres naturais. Mas o que dizer de uma cidade que foi completamente devastada por uma bomba atômica?

Em 6 de agosto de 1945, a bomba atirada sobre Hiroshima, no Japão, matou cerca de 140 mil pessoas e, nos anos seguintes, mais 145 mil morreram por exposição à radiação. Isso significou o extermínio de 65% da população da cidade e a destruição de 90% de todos os edifícios urbanos.

Rumores da época diziam que não haveria vegetação ou flores em Hiroshima nos 75 anos seguintes à explosão da bomba, por causa da radiação. Seria possível reconstruí-la no mesmo local?

Embora a dúvida fosse pertinente, o desejo dos sobreviventes de mostrar ao mundo a obstinação e a capacidade de recuperação sobrepujou os receios e as incertezas, permitindo que fosse trilhado o caminho do reerguimento da cidade.

A primeira tarefa para a reconstrução foi recolher e queimar o restante dos cadáveres, além de limpar todos os destroços e detritos, trabalho que levou dois anos para ser completamente concluído.

O passo seguinte, marco do renascimento de Hiroshima, foi a construção do Parque Memorial, localizado na cratera onde a bomba explodiu. Os sobreviventes começaram a construir suas casas individualmente e, seis meses após o final da guerra, 5.000 casas estavam reconstruídas.

A Prefeitura de Hiroshima também começou a construir habitações, mas os trabalhos tiveram de ser interrompidos após a conclusão de apenas 392 casas, no final de 1946, porque faltou madeira.

A educação passou a ser vital nessa reconstrução, porque a bomba atômica destruiu a maioria das escolas, tornando 80% delas absolutamente disfuncionais. Adotaram, então, as chamadas "sala de aula do céu azul", com quase nenhum equipamento ou artigos de papelaria.

Com escassez de recursos e as imensas dificuldades do pós-guerra, não se encontravam alternativas eficientes para promover o desenvolvimento da cidade.

Uma das soluções encontradas pelo governo japonês foi a edição de leis que permitissem a fusão de municípios, o que possibilitou às aldeias circundantes, não afetadas pela bomba, integrarem a cidade de Hiroshima.

O plano de reconstrução previa projetos de novas avenidas, parques, reflorestamento e redivisão do solo, tornando possível a reorganização do espaço urbano. A cidade começava a percorrer seu caminho em direção ao desenvolvimento novamente.

Kyodo - 6.ago.2016/Reuters
Pombas voam sobre o parque Memorial da Paz, em Hiroshima
Pombas voam sobre o parque Memorial da Paz, em Hiroshima

Nos anos seguintes, 13 vilas vizinhas foram anexadas a Hiroshima, o que aumentou a população para 500 mil pessoas até o ano de 1975 e para 1 milhão de habitantes em 1995, após mais fusões municipais e desenvolvimento da cidade.

Essas fusões permitiram à cidade readequar a infraestrutura urbana e conseguir os recursos necessários para dar sequência ao processo de reconstrução. A Prefeitura de Hiroshima iniciou a recolocação de desempregados, contratando 100 mil pessoas para trabalhar na reconstrução dos espaços e em edifícios públicos.

Uma filial da agência nacional de fomento para pequenas e médias empresas foi implantada em Hiroshima, para financiar as indústrias de pequeno e médio portes.

À medida que a cidade começava a prosperar, tornava-se mais atraente, trazendo novos habitantes e ajudando a economia municipal a se desenvolver.

O processo de reconstrução fez de Hiroshima uma das mais belas e industrialmente produtivas cidades do mundo, dedicada à causa da paz no planeta.

Seus cidadãos deram ao mundo um exemplo do que pode ser conseguido com comprometimento, disciplina e determinação, recriando das cinzas uma cidade ultramoderna e inserida em um ecossistema impossível de se imaginar em agosto de 1945.


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