Folha de S. Paulo


Planejamento urbano ajuda a evitar as ilhas de calor

As temperaturas são mais altas nas áreas urbanas do que nas áreas rurais, porque o ambiente construído (ruas, avenidas, edifícios, estacionamentos etc.) absorve e retém muito mais calor do que os materiais no ambiente natural.

À medida que se intensificam as construções nas cidades, cresce a geração do efeito denominado "ilha de calor", cujo aquecimento não se dá somente nas zonas mais centrais, mas também em locais específicos.

Moacyr Lopes Junior-16.out.2015/Folhapress
Crianças brincam na piscina do Clube Esperia em dia de forte calor na cidade de São Paulo, em outubro de 2015
Crianças brincam na piscina do Clube Esperia em dia de forte calor na cidade de São Paulo

Os fatores que mais influenciam essa variação de temperatura estão ligados à interação entre o ambiente urbano e o calor proveniente da energia solar. A forma e os materiais com os quais são construídos os edifícios, a largura e a orientação geográfica das ruas, a presença ou a falta de vegetação, o calor produzido pelos motores dos veículos que trafegam na cidade são elementos ligados diretamente a esse fenômeno.

Pesquisa conduzida pela Faculdade de Ambientes Construídos da Universidade de South Wales, na Austrália, reuniu evidências dos efeitos sobre o microclima local e o conforto térmico dos pedestres produzidos pelo meio ambiente urbano.

Dados coletados durante o verão de 2015 e 2016, em Sidney, revelaram que a temperatura do ar nas ruas ladeadas por edifícios pode ser superior em até 5°C às temperaturas registradas pelos observatórios meteorológicos.

A temperatura medida na fachada dos edifícios chegou à preocupante marca de 70°C. As superfícies verticais dos prédios são responsáveis por grande parte do contato dos edifícios com o ar no entorno dos ambientes urbanos, e quanto mais quentes elas estiverem, maior será a elevação da temperatura durante o dia.

Além disso, devido à densa massa térmica típica dos materiais utilizados nas construções, o calor absorvido pelas fachadas continua a ser emitido mesmo após o por do sol. Isso diminui o natural resfriamento da temperatura do ar na circunvizinhança, prolongando o desconforto térmico das pessoas.

Considerados os resultados obtidos, e para minorar esses efeitos, os pesquisadores sugerem que no projeto dos edifícios sejam consideradas a orientação da exposição solar, a refletância e emissividade dos materiais que serão utilizados nas fachadas, a posição dos edifícios uns com os outros, e a construção de calçadas com materiais que absorvam menos calor.

Mudar a cor das superfícies escuras por cores mais claras evita a absorção da energia solar, que será refletida, e proporciona redução da temperatura ao nível do solo, influenciada por essas superfícies.

O aumento da cobertura vegetal, por meio de seu cultivo planejado no entorno de edifícios e em locais estratégicos da cidade, pode também absorver a radiação solar, prover sombra e controlar os benefícios de fluxos de ar.

Pesquisadores americanos estimam que se fossem plantadas 100 milhões de árvores nos espaços urbanos das cidades dos EUA, e se um programa para utilização de mudança das cores das superfícies pavimentadas fosse adotado, as temperaturas no verão poderiam ser reduzidas entre 3ºC e 6°C, e o uso de energia elétrica diminuído em aproximadamente 50 bilhões de KWh por ano (2% de toda energia elétrica utilizada no país).

Essas medidas, além de reduzir a temperatura e a demanda por energia, tornam a cidades mais bonitas e agradáveis, diminuem o nível de ruído e a poluição do ar.

A implantação integral desses padrões dificilmente será feita de uma só vez e, mesmo assim, os resultados não serão imediatos, mas alcançados gradualmente ao longo do tempo.

É importante ter em mente que as decisões de projeto e planejamento urbano têm implicações diretas no microclima e podem ser fundamentais para evitar a formação de "ilhas de calor".


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