Folha de S. Paulo


O crescimento de Xangai

Uma das maiores cidades do mundo, com população fixa e flutuante somadas de 23 milhões de habitantes, Xangai ocupa uma área de 6.340 quilômetros quadrados. Com aproximadamente o dobro dos habitantes do município de São Paulo e ocupando uma área quatro vezes maior, a cidade sente, hoje, as consequências de seu rápido crescimento.

Pesquisadores chineses têm investigado, nos últimos anos, os impactos da urbanização no meio ambiente, as alterações do clima oriundas das mudanças no uso e na ocupação do solo, a relação entre qualidade da água e urbanização e seus efeitos na biodiversidade.

Entre 1949 e 2010, a cidade experimentou mudança significativa na população total e na densidade populacional. Dos cinco milhões de habitantes em 1949, a população saltou para 14 milhões em 2010, adicionada a uma população flutuante de nove milhões residente em Xangai por mais de seis meses durante o ano. Embora tenha sido a primeira região da China a apresentar taxa de fertilidade negativa, o notável aumento populacional ocorreu devido à migração interna.

Linli Cui, pesquisador do Centro de Sensoriamento Remoto por Satélites em Xangai, publicou, recentemente, estudo onde procurou detectar os processos e as características da urbanização na região, focando no crescimento populacional e nas alterações do uso e da ocupação do solo.

Devido ao processo de urbanização, as áreas agricultáveis de Xangai foram paulatinamente ocupadas e transformadas em outros usos urbanos. Nos últimos 20 anos, quase 50% da área do município sofreu essa transformação. Os números impressionam.

A partir de 1992, a área de vias pavimentadas aumentou em 150 milhões de metros quadrados a cada década. O crescimento em dez anos equivale aproximadamente à área total de vias pavimentadas no município de São Paulo.

Em 2010, a área construída de edifícios na cidade, que em 1949 era de 46 milhões de metros quadrados, chegou a quase 1 bilhão de metros quadrados.

O fornecimento de gás natural saltou de 216 milhões de metros cúbicos no ano 2000 para 4 bilhões de metros cúbicos em 2010, sendo cerca de 25% para uso residencial e o restante para usos industriais e comerciais.

Para ter ideia comparativa, segundo dados da Secretaria Estadual de Energia e Mineração, o município de São Paulo consome 1,5 bilhão de metros cúbicos de gás natural por ano, sendo 60% desse volume destinados à geração termoelétrica. O segundo maior consumidor é a cidade de Cubatão, com apenas 324 milhões de metros cúbicos.

O acentuado processo de urbanização, com a consequente melhoria no padrão de vida das pessoas, aumentou também a produção de lixo na cidade. As 960 mil toneladas de lixo produzidas em 1950 saltaram para quase nove milhões de toneladas em 2010.

Todo esse processo fez com que o aumento de ilhas de calor na cidade fosse magnificado. A partir do ano 2000, um intenso programa de incremento das áreas verdes, por meio da criação de parques e de áreas ajardinadas ao longo das vias públicas, mostrou eficiência na mitigação desse problema.

Talvez, o processo de urbanização seja uma das forças antropogênicas mais poderosas em nosso planeta. Embora necessário, e por vezes causador de consequências adversas no meio ambiente, a mitigação e a prevenção de efeitos colaterais danosos são possíveis e necessárias.

O aprendizado com experiências vivenciadas por outras localidades, o estudo e o aperfeiçoamento constantes, associados ao uso da tecnologia, serão poderosos aliados para que consigamos criar os espaços urbanos necessários à vida humana, com o menor impacto possível ao ambiente.


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