Folha de S. Paulo


Mudanças climáticas e a América Latina

As mudanças climáticas ganham a atenção de cientistas preocupados com sua extensão e suas consequências para o planeta.

Embora ainda existam divergências sobre a origem dessas mudanças, é fato que as questões climáticas e ambientais são os grandes desafios no desenvolvimento das cidades, principalmente daquelas cujas taxas de urbanização e crescimento são mais elevadas.

Trabalho desenvolvido por Giancarlo Ramos, da Universidade do México, procurou estudar esse fenômeno em algumas cidades da América Latina - México, São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Quito e Bogotá -, promovendo a análise metabólica do balanço relativo aos fluxos de energia e recursos naturais no processo de crescimento e na operação das áreas urbanas.

A América Latina (AL) é a região mais urbanizada do mundo, com aproximadamente 80% de sua população morando em áreas urbanas, e com taxa de crescimento de 1,8% ao ano.

Segundo o estudo, esse crescimento, mais acentuado na segunda metade do século 20 e fruto principalmente da migração rural e concentração das atividades econômicas, produziu tecidos urbanos complexos, desorganizados e não sustentáveis, principalmente pela falta de planejamento adequado, de altas taxas de motorização e significativa assimetria econômica na população.

Dados apontam que 27% da população na AL vivem em locais precários e irregulares.

A complexidade desse crescimento urbano implica em maiores antropia e demanda de materiais e energia.

No último século, enquanto a população no planeta quadruplicou, o uso de materiais e energia cresceu, em média, dez vezes mais. No ano 2000, o volume global de extração de recursos da natureza foi de 48,5 bilhões de toneladas e, em 2010, esse número cresceu para 60 bilhões de toneladas, gerando, ainda, um bilhão de toneladas de resíduos nas cidades.

A matéria ganha contornos importantes, uma vez que o crescimento da população acontecerá majoritariamente em áreas urbanas, principalmente na AL, fato que, certamente, implicará num expressivo aumento da demanda por recursos naturais e energia.

Embora o planejamento metabólico dos fluxos de energia e recursos seja limitado, ele deveria ser integrado ao planejamento do uso do solo, da operação urbana e da reciclagem de materiais. A avaliação metabólica urbana dos fluxos de energia e recursos deveria ser entendida como parte do planejamento urbano, consideradas as especificidades de cada cidade e região.

A infraestrutura existente no mundo que consome, na maioria dos casos, combustíveis fósseis, deve lançar na atmosfera até o ano de 2060 cerca de 500 gigatoneladas de CO2. Portanto, a infraestrutura, principalmente de transportes e de operação dos edifícios, deverá ser repensada e substituída por modelos com baixa emissão de carbono.

A avaliação das cidades da AL selecionadas, embora tenha mostrado que elas têm uma agenda positiva voltada às mudanças climáticas, revelou insuficiência e assimetria na implementação de medidas e planos para mitigação e adaptação aos efeitos das mudanças climáticas. Além disso, o planejamento não considera adequadamente as medidas e ações necessárias para reduzir as atuais emissões indiretas de carbono.

A limitada integração entre governo, agências e políticas sustentáveis de desenvolvimento, a falta de governança para implementação e monitoramento de ações concretas, além da limitação de recursos, são questões do estudo passíveis de aprimoramento e resolução, para que a AL possa se desenvolver na direção de um crescimento sólido, socialmente justo e equilibrado do ponto de vista ambiental.


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