Folha de S. Paulo


A intolerância social

As cidades tendem a ser cada vez mais heterogêneas e plurais, e atraem um amplo espectro de pessoas e grupos demográficos. No Brasil, como em outras partes do mundo, são preocupantes as demonstrações de intolerância social marcadas, até mesmo, pela violência e o ódio.

Estudo recente publicado pelo "Journal of Urban Affairs" avaliou essa questão, enfocando a tolerância na vida urbana. Os pesquisadores identificaram duas formas de tolerância. A "tolerância da diferença", definida como a aceitação daqueles que falam outra língua, seguem religiões diferentes, são imigrantes ou de etnia diversa, e a outra, a "tolerância da ameaça", relacionada a pessoas não somente diferentes, mas percebidas como grupos de excluídos sociais.

Para entender melhor esse fenômeno, os pesquisadores estudaram como as pessoas se sentem em relação a grupos formados por alcoólatras, dependentes químicos, gays e portadores do vírus HIV. Essa pesquisa, feita com habitantes de 48 países, mostrou que pessoas com maior nível de educação e que trabalham em período integral são mais tolerantes.

O estudo revelou, ainda, que nas cidades maiores as pessoas tendem a ser mais tolerantes com os culturalmente diferentes. Um pequeno incremento no tamanho da cidade demonstrou significativo aumento na tolerância com as diferenças. De forma geral, cidades maiores, mais densas, e com baixas taxas de desemprego mostraram-se locais com pessoas mais tolerantes.

De qualquer maneira, se quisermos criar cidades mais justas e sustentáveis, devemos projetar e construir espaços urbanos que possam abrigar todo o tipo de diversidade social, promovendo o pluralismo pragmático e disseminando a cultura da tolerância.

O estímulo para que os cidadãos relacionem-se uns com os outros pode vir com a criação de espaços públicos compartilhados, que transcendam a percepção das necessidades individuais ou grupais. A convivência constante aumentará, paulatinamente, os níveis de tolerância.

A preocupação em estimular nas escolas iniciativas que ensinem às crianças a importância da tolerância social são também muito bem-vindas nesse processo de tornar as cidades mais justas e plurais. A intolerância pode, também, influenciar o crescimento econômico, uma vez que o fluxo de tecnologia e capital humano pode ser afetado pelos níveis de tolerância em determinada sociedade.

Benjamim Friedman, economista de Harvard, mostra que a expansão econômica está sempre ligada à tolerância, mobilidade social e preocupação com justiça social, enquanto a contração econômica tem espaço em ambiente de xenofobia, protecionismo comercial e perseguição de minorias.

Segundo Friedman, com a economia em expansão e o aumento do padrão de vida, as pessoas tendem a ser expansivas, tolerantes, magnânimas e têm a sensação que há espaço para todos, exatamente ao contrário do que acontece em períodos de recessão econômica.

Um dos efeitos colaterais positivos da disseminação da tolerância é o aumento da coesão social. Nesse cenário, os indivíduos tornam-se aptos a ver eles mesmos como parte do todo, a aceitarem e respeitarem os valores da sociedade, mesmo que não concordem integralmente com eles.

Quando a coesão social está presente em uma sociedade, os cidadãos tendem a compartilhar valores e objetivos, que se refletem em suas atitudes uns com os outros. Tolerância, abertura à diversidade e inclusão são, portanto, elementos-chave na nova equação do desenvolvimento econômico.


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