Folha de S. Paulo


E agora, Brasil?

O panorama da economia brasileira é extremamente preocupante. A falta de um diálogo produtivo entre Executivo e Legislativo acentua o processo de degradação dos fundamentos econômicos e retarda, com consequências gravíssimas, a recuperação da nossa economia.

Todos os setores produtivos estão passando por um difícil processo de acomodação à atual desaceleração econômica, com importantes reflexos para o desenvolvimento social, principalmente no aumento da taxa de desemprego, uma situação que pode agravar o quadro de forma bastante significativa.

As crises ética e moral desencadeadas pelas investigações e operações da Polícia Federal assustam a todos, a cada dia que passa. Novas revelações assombram os mais céticos, dando a impressão que muito mais existe no seio de um dos maiores escândalos de que se tem notícia no país.

O mercado imobiliário absorve, como os demais setores, os efeitos danosos do estado de letargia econômica em que nos encontramos e que resulta da somatória de erros oriundos de ações incompetentes, aliados àqueles perpetrados com objetivos escusos em detrimento do país e de toda sociedade brasileira.

Dados comparativos do primeiro trimestre de 2014 com o primeiro trimestre de 2015 das principais capitais do País mostram que, na média, houve um decréscimo de 24% nos lançamentos e de 7% nas vendas de imóveis novos. No mesmo período, os estoques cresceram 16%.

Na cidade de São Paulo, o acumulado de janeiro a junho de 2014 em comparação com o mesmo período de 2015 aponta uma queda de 18% nos lançamentos. As vendas efetuadas entre o primeiro semestre de 2013 até o primeiro semestre de 2015 apresentaram uma retração de 62% em volume de recursos.

Não bastassem os números nada animadores do mercado imobiliário, a evolução dos acontecimentos não caminha na direção da solução dos problemas.

No que diz respeito ao financiamento habitacional, temos acompanhado uma queda crescente nos recursos disponíveis da caderneta de poupança, principal fonte de alimentação dos financiamentos. De janeiro a junho, diminuiu em R$ 38,5 bilhões o saldo das cadernetas de poupança.

Como resultado da política equivocada de contenção fictícia dos preços administrados, e do descontrole das contas públicas, a inflação subiu a patamares não alcançados nos últimos 12 anos.

Com isso, diminuem os recursos disponíveis para o financiamento habitacional, aumentam as taxas de juros e o desemprego, dificultando, assim, as futuras operações imobiliárias para aquisição da casa própria.

Outra fonte importante para os financiamentos, principalmente para a baixa renda, são os recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), preocupantemente ameaçados pelo Projeto de Lei n° 1.358/2015, que propõe dobrar o índice de remuneração das contas do Fundo, e que foi aprovado na Câmara dos Deputados nos últimos dias.

Num olhar menos atento poder-se-ia supor ser esta uma boa medida para os trabalhadores. Mas, quando se avaliam as consequências danosas para os próprios trabalhadores, fica clara a total inconveniência da proposta.

Hoje, 88,6% dos cotistas do FGTS têm saldo de conta inferior a seis salários mínimos.

O eventual benefício conseguido com o aumento da taxa de juros anuais, aproximadamente R$ 140,00 por ano para aqueles que têm na conta valor equivalente a seis salários mínimos, não parece vantajoso, considerando-se que, em contrapartida, haverá a elevação das taxas de juros para o financiamento habitacional, impedindo que esse mesmo trabalhador compre sua casa própria.

Esse estado de coisas tem de mudar.

É urgente um entendimento nacional suprapartidário em torno de alternativas que possam ajudar o Brasil a atravessar esse delicado momento, que põe em risco o futuro do nosso desenvolvimento econômico e a estabilidade social.


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