Folha de S. Paulo


Fazendas urbanas

Alimentar de forma eficiente, e a custos compatíveis, a população urbana é um grande desafio, se considerarmos os novos modelos de cidade. O conceito de "fazenda urbana" passa a fazer parte do pensamento de ambientalistas, grupos empresariais e planejadores das cidades.

Por que essa ideia de agricultura urbana, de produzir alimentos em larga escala nas cidades populosas passa, agora, a despertar maior interesse?

Não estamos falando em "hortas comunitárias", mas sim em modelos eficientes de células de produção de alimentos voltadas à comercialização e em bases empresariais. Células compactas, estrategicamente distribuídas pela cidade, e que possam fornecer produtos para o consumo, com qualidade e rapidez, para restaurantes, feiras livres e pequenos comércios locais.

A possibilidade de diminuir os custos de transporte, reduzir a emissão de CO2 na atmosfera, tornar a produção menos dependente dos efeitos climáticos sazonais e, com isso, oferecer alimentos mais saudáveis e baratos para a população e fazer da agricultura urbana um marco divisório no sistema de produção.

Como seriam, então, essas fazendas urbanas? Sem dúvida, nada semelhantes ao que conhecemos e entendemos como fazendas. Seguramente, deverão ser unidades com alta capacidade de produção, que usem o que de melhor a tecnologia pode oferecer e sejam o mais compactas possível, em função dos altos custos da terra urbana.

Vários modelos já foram desenvolvidos e começam a ser testados. Em Singapura, por exemplo, operam desde 2012 espécies de estufas em alumínio e vidro, com 10 metros de altura, e que ocupam uma área aproximada de seis metros quadrados. O sistema é composto por bandejas, onde são plantados os vegetais, conectadas a torres e correias que fazem essas bandejas circularem para cima e para baixo, a fim de receberem irrigação e nutrientes de maneira uniforme.

Outro exemplo interessante são os chamados "Growup Box", em Londres, que poderiam ser definidos como uma cultura de vegetais baseada na criação de peixes. O modelo é composto por tanques de água, onde são criados os peixes, e sobre eles estufas de vidro com torres de alumínio para a plantação de vegetais. O sistema utiliza o conceito de aquaponia, que consiste em converter os dejetos dos peixes, por bactérias, em nitrogênio, que se torna um importante nutriente para as plantas. Por outro lado, as plantas purificam a água utilizada pelos peixes, numa relação simbiótica bastante eficiente.

De qualquer forma, não será tão fácil gerar rentabilidade suficiente apenas com a produção vegetal. A introdução no modelo de uma etapa de processamento da produção como, por exemplo, o pré-cozimento ou pré-lavagem e acondicionamento, pode fazer com que os produtos sejam comercializados com valor agregado, cuja mais valia pode tornar viável economicamente o modelo, não só para o produtor, mas também para a cidade, pois serão criados empregos e tributos.

Essas e outras formas de produção de alimentos que serão desenvolvidas merecem nossa atenção, não só pelos resultados práticos, mas também pelo aspecto urbanístico. É necessário criar condições legais para que tais atividades possam ser implantadas e desenvolvidas adequadamente no tecido urbano.

Nesse sentido, as regras de zoneamento desempenham papel importante na definição dos locais onde serão permitidas essas atividades, em quais condições e como poderão ser desenvolvidas.

Atualmente, vários municípios, inclusive São Paulo, estão revisando seus planos diretores e leis de usos e ocupação do solo e, portanto, é o momento adequado para prever essas alternativas.


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