Folha de S. Paulo


Novos arranjos familiares e o déficit habitacional brasileiro

No Brasil, nem todas as pessoas compreendem exatamente o que é considerado déficit habitacional, nem mesmo o que se entende por arranjos familiares, quando se traça o perfil da população brasileira com o objetivo de avaliar as condições de moradia no país.

Para melhor analisar déficit de moradias, é necessário compreender como se formam as novas famílias e como estão distribuídas no País. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), com o intuito de estudar essas questões, identificou a existência de novos arranjos familiares no Brasil, assim divididos: casal com filhos (49,9%), casal sem filhos (16,2%), mães com filhos (15,4%), pais com filhos (2%), homens que moram sozinhos (7,5%) e mulheres que moram sozinhas (8,9%). Os indicadores mostram que, dentre todos esses arranjos familiares, o que tem diminuído em maior intensidade nos últimos 15 anos são os casais com filhos, e o que mais aumentou foi o número de casais sem filhos.

A quantidade de pessoas morando sozinhas mais que dobrou nos últimos 30 anos, e os homens lideram esse grupo no Norte, Nordeste e Centro Oeste, enquanto o maior índice de mulheres morando sozinhas está no Sul e Sudeste.

Todos esses fatores têm influência fundamental, não só no entendimento do modelo de habitação no País, mas, principalmente, no planejamento de produção para o mercado imobiliário. Por exemplo, o aumento de pessoas morando sozinhas gera maior necessidade de unidades habitacionais com padrão específico. Da mesma forma que o aumento de casais sem filhos ou de mulheres morando sozinhas indicam ao mercado o tipo de produto que pode ser nicho nos próximos anos.

No Brasil, segundo o último levantamento do IBGE, de 2012, existem aproximadamente 66 milhões de arranjos familiares e 63 milhões de domicílios. Em uma análise simplista, seria necessário um domicílio para cada família ou arranjo familiar, e se poderia afirmar que o déficit habitacional no Brasil chega a três milhões de moradias. A questão é que o déficit habitacional não é formado somente pela falta de moradias, mas também pelas habitações com algum tipo de inadequação, entre outros fatores.

A Fundação João Pinheiro avalia o déficit habitacional considerando, basicamente, a soma de quatro componentes, cujas definições e participação percentual em sua composição são: domicílios precários, na sua estrutura ou conexão com sistemas de saneamento (15,3%); coabitação familiar, que considera apenas as famílias que declaram a intenção de constituir novo domicílio (32,2%); ônus excessivo com aluguel urbano, que aponta a concentração de famílias que ganham ate três salários mínimos e despendem mais de 30% de sua renda com a locação (45%); e adensamento excessivo em domicílios alugados, quando existe um número médio superior a três moradores por dormitório (6 %).

Computados todos esses dados, o déficit habitacional total chega a 5,8 milhões de moradias (2012). O maior déficit absoluto encontra-se região Sudeste, com 2,2 milhões, seguida de perto pela região Nordeste, com 1,9 milhão de unidades. Juntas, representam em torno de 70% do total do déficit habitacional brasileiro.

Há que se considerar também que esse déficit tem um comportamento dinâmico, flutuando à medida que se constroem novas habitações e, paralelamente, constituem-se novos arranjos familiares criando-se novas demandas habitacionais.

Estimativas do setor imobiliário indicam que, nos próximos 10 anos, se quisermos acabar com o déficit habitacional e suprir a demanda gerada pelo crescimento vegetativo, deveremos produzir aproximadamente 1,8 milhão de moradias por ano. Portanto, muito trabalho, planejamento e recursos serão necessários na próxima década.


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