Folha de S. Paulo


Gentilezas Urbanas

As cidades em todo o mundo, e principalmente no Brasil, vêm se desenvolvendo em vários aspectos, tanto do ponto de vista econômico, de transportes, tecnologias de monitoramento e controle de tráfego quanto da criação de novos modelos de ocupação urbana ou mesmo crescimento populacional. Todavia, sob a ótica social, em especial no que diz respeito à relação entre as pessoas, ainda precisamos evoluir bastante.

Pequenas atitudes focadas no bem-estar dos outros, direta ou indiretamente, podem ser a chave para termos uma cidade melhor.

Este é o conceito de "Gentilezas Urbanas", um programa criado pelo Secovi-SP (sindicato do mercado imobiliário) com o objetivo de divulgar, multiplicar e incentivar as ações de indivíduos, instituições, empresas e associações que destaquem humanidade, urbanidade, amor, solidariedade e integração entre a cidade e as pessoas. Rede de boas práticas que pode abarcar diferentes áreas como cultura, educação, esportes, saúde, lazer e meio ambiente, e abrange também um Banco de Oportunidades disponível no site www.gentiliezasurbanas.org.br, que armazena propostas de projetos sociais distribuídos pela capital paulistana e que precisam de ajuda para serem implementados.

Dentre as várias alternativas propostas, vale destacar o programa "Construindo uma Segunda Chance", que em uma parceria entre o sindicato, o Ampliar –ONG de formação educacional e profissional de jovens e adolescentes em situação de risco social–, e o Grupo Cultural AfroReggae, de São Paulo, visa promover a inclusão social de egressos do sistema penitenciário, capacitando-os para o mercado de trabalho e dando condições para que pelo menos 70% desses ex-penitenciários tenham a oportunidade de se integrarem à vida social abandonando o crime.

A universalização de programas como esse nas nossas cidades pode, por indução, tornar as pessoas mais conscientes da necessidade de uma mudança de comportamento, o que pode fazer muita diferença na vida de uma comunidade. Por mais paradoxal que possa parecer, estudos mostram que comunidades com maior poder aquisitivo tendem a ser menos propensas a ajudar os outros sem esperar nada em troca, diferentemente daquelas com menor capacidade financeira. Isso mostra que crescimento econômico sem desenvolvimento de consciência social gera uma grave distorção na correta compreensão dos reais valores sobre os quais a sociedade deve estar fundada.

Talvez seja mais promissora a observação de que é efetivamente possível "ensinar a ajudar". Psicólogos descobriram, por exemplo, que as crianças expostas a programas de televisão com personagens altruístas tendem a imitá-los. E isso, de alguma forma, também acontece com os adultos. Portanto, programas que possam despertar em nossas crianças o sentimento de urbanidade, fortalecer a importância de, em qualquer hipótese, tratar as outras pessoas com humanidade e ensinar a importância da gratificação pessoal de fazer bem aos outros, nos ajudará a construir uma sociedade mais justa e feliz.

Torna-se ainda mais importante essa mudança de comportamento em cidades densas, que estimulam as pessoas ao anonimato e isolamento, fazendo com que elas se sintam menos responsáveis em relação aos outros. Essa apatia social pode aumentar com o nível de adensamento.

Estudos mostram, ainda, que a velocidade com que as pessoas andam nas ruas tem relação inversamente proporcional à propensão delas ajudarem estranhos. Portanto, não só a conscientização, mas a criação de espaços urbanos diferenciados pode ajudar muito a consolidar a gentileza urbana como prática normal no dia a dia das cidades.


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