Folha de S. Paulo


Economia e ecologia urbana

Sustentabilidade tem sido a palavra de ordem em qualquer análise ou proposta de desenvolvimento –e nas áreas urbanas não poderia ser diferente–, apesar de nem sempre haver perfeito entendimento de seu conceito, muitas vezes associado equivocada e exclusivamente ao ambientalismo.

Sustentabilidade não é apenas meio ambiente, mas também equidade social e prosperidade econômica. As cidades que pretendem se desenvolver de forma sustentável devem, portanto, pautar-se pelo atendimento a esses três objetivos.

Como fazer, então, para engajar cidadãos, governantes, técnicos do setor público e empresários imobiliários na construção de um ambiente urbano que atenda a todas essas características? Inicialmente, com uma nova agenda urbana que garanta não só a operação apropriada das cidades em termos de eficiência no uso dos recursos naturais e na baixa emissão de carbono –com redução da dependência dos combustíveis fósseis e potencialização das energias renováveis–, mas que vá além e produza o que podemos chamar de eficientes ecossistemas sociais e econômicos. O ambiente político tem papel fundamental no alcance dessas metas.

Em uma interpretação livre, podemos definir ecologia social como o estudo de um modelo de interações dentro de contextos socioinstitucionais e culturais, entre pessoas que fazem parte de determinado ambiente e que se reúnem para promover o bem-estar individual e coletivo. Por outro lado, a ecologia econômica visa estabelecer uma relação entre os ecossistemas e os modelos econômicos de desenvolvimento, com foco direto nos problemas e nas alternativas objetivas de solução, não só a partir das perspectivas ambientais, mas também no contexto socioeconômico particular dos diferentes ambientes urbanos.

A ecologia econômica deve estar focada, portanto, no estudo da manutenção dos nossos sistemas de suporte da vida e da valoração dos recursos naturais. Todavia, vinculados a modelos estreitamente adaptados à viabilidade econômica de novos instrumentos de administração e na efetivação de modelos ambientais.

A solução do problema capaz de equacionar a sustentabilidade nas áreas urbanas passa pelo estudo aprofundado das ações necessárias para o desenvolvimento das cidades, de tal forma que possamos compreender e conseguir estruturar os modelos adequados para que se atinjam os objetivos de proporcionar qualidade de vida à população urbana, preservando uma ambiência urbana natural e saudável, e possamos, ao mesmo tempo, contar com mecanismos viáveis do ponto de vista econômico.

É realmente difícil medir o valor econômico de aspectos intangíveis, como vida humana, estética ambiental ou benefícios ecológicos de longo prazo. Mas, na verdade, já estamos fazendo isso de alguma forma. Quando decidimos onde construir uma estrada ou estabelecer normas e restrições para a construção e o licenciamento de edifícios e obras, assumimos o preço de determinadas escolhas.

Para conseguir ter um modelo futuro equilibrado, há de se enfrentar objetivamente essas escolhas, muitas vezes difíceis, ao invés de negar as suas existências. Há que se reconhecer que as dificuldades inerentes e as incertezas na determinação de valores ecológico-econômicos nos direcionam a diferentes formas de abordagem. Porém, não existe abordagem certa ou errada, mas aquela que é a melhor naquele momento e que esteja de acordo com os critérios que a sociedade, com equilíbrio, vai determinar. Tão importante quanto considerar o papel da economia no meio ambiente é considerar o papel do meio ambiente na economia.


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