Folha de S. Paulo


A reurbanização de negócios e as cidades

As cidades tendem a ser cada vez mais densas, acomodando distritos dedicados a todos os tipos de negócios, que podem se beneficiar fortemente da economia de escala possibilitada por um vasto mercado de clientes e consumidores.

Estamos, hoje, no que podemos chamar de 'era urbana', onde muito se fala acerca de modelos de urbanização, economia global, sustentabilidade, cidades inteligentes, dentre outros tantos assuntos, mas pouco se discutem os pontos fracos da governança municipal e, principalmente, a urbanização e reurbanização de negócios na cidade. Inclusive, esse assunto foi abordado recentemente pelo consultor de cidades Greg Clark.

Ele aponta tendências importantes nessa direção. A primeira delas é que as cidades em desenvolvimento no mundo são mercados emergentes para negócios, pois elas crescem a uma taxa de 70 milhões de pessoas por ano. Como indutores naturais da inovação e dos espaços urbanos necessários para abrigá-las, as cidades podem se reestruturar para receber títulos de 'sustentáveis', 'globais', 'inteligentes', lastreadas em diversos tipos de negócios incentivados e desenvolvidos dentro dos limites municipais.

Por outro lado, as empresas podem reestruturar os seus negócios para contribuir com os objetivos de desenvolvimento das cidades, criando setores ligados à infraestrutura urbana, tecnologia de monitoramento, inteligência digital, e a outras soluções capazes de ajudar as prefeituras a enfrentar alguns dos principais desafios da urbanização, como redução do consumo de recursos e melhoria da eficiência da prestação de serviços aos munícipes com a adoção de uma melhor gestão.

O setor privado está desempenhando um papel cada vez mais importante na governança municipal, unindo líderes empresariais em grupos e organizações que desenvolvem conceitos e defendem políticas de reforço da competitividade das cidades, com uma atuação mais dinâmica e proativa, e mais preocupada em contribuir para o desenvolvimento urbano. Essas organizações tornaram-se força motriz em quase todas as cidades mais bem-sucedidas do mundo. Destacam-se alguns movimentos como "London First", "New York City Partnership", "World Business Chicago", "Barcelona Global", "Committee for Sidney" e aqui na América do Sul "ProBogota", todos com um papel importantíssimo no desenvolvimento regional.

Os negócios encontram sua base de crescimento na rede formada pelas cidades, que tendem a se unir para compartilhar as melhores práticas e avançar no desenvolvimento de ações de mitigação de problemas comuns, como transporte, déficit habitacional, criminalidade e pobreza. Tudo isso realizado no sentido de acelerar a transformação responsável das cidades em benefício das comunidades urbanas.

Cidades e negócios tornaram-se fortemente interconectados e interdependentes. Eles são, e continuarão a ser, diferentes tipos de entidades, mas ambos em condições de tirar vantagens da melhor compreensão e utilização de suas potencialidades.

As empresas têm plenas condições de ajudar as cidades a desenvolver novas habilidades, tais como eficiência operacional, disciplina orçamentaria, e novas formas de trabalhar e de se envolver com as partes interessadas.

Ainda há muito para as urbes aprenderem com o mundo dos negócios, particularmente em áreas como finanças e governança. A aplicação desse modelo no Brasil deve ser incentivada, se quisermos melhorar o desempenho e a competitividade mundial de nossos municípios.


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