Folha de S. Paulo


Polêmico, Edson Bueno era referência mundial em gestão de saúde

Raquel Cunha - 4.mai.2015/Folhapress
Edson Bueno, médico e empresário
O médico e empresário Edson Bueno, em festa de comemoração dos 15 anos do jornal Valor

Em maio de 2013, fiz parte de uma comitiva médica que visitou serviços de saúde israelenses a convite da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria. Entre eles, hospitais, operadoras de saúde e laboratórios em Tel Aviv, Jerusalém e Haifa.

O médico e empresário Edson de Godoy Bueno, morto nesta terça (14), integrava a comitiva. À época tinha acabado de vender a Amil Assistência Médica para a UnitedHealth Group e se tornado o principal acionista individual da companhia e membro do seu conselho de administração.

Apesar de ser um dos homens mais ricos do Brasil, com fortuna estimada em U$ 3,1 bilhões, segundo o site da revista Forbes, Bueno impressionava pelo jeitão simples. Tinha orgulho das suas raízes humildes e contava causos da época em que era engraxate em Guarantã (SP).

Entre eles, que havia decidido cursar medicina depois de um acidente, aos 14 anos. Ele brincava num armazém com sacos de algodão quando caiu e desmaiou. Ao acordar, estava nos braços do único médico da pequena Guarantã. Catorze anos depois, formava-se médico no Rio de Janeiro.

Nos bastidores da medicina, era uma figura polêmica. Parte dos profissionais o via como um "explorador da mão de obra médica", que havia enriquecido pagando mal os profissionais que prestavam serviços à sua operadora e negando procedimentos aos usuários.

A maioria, porém, nutria admiração pelo médico que havia se transformado em um dos maiores empresários de saúde do mundo. Uma das estratégias adotadas por Bueno, a integração dos negócios de plano de saúde, laboratórios e hospitais, virou "case" internacional entre gestores de saúde.

Agressivo nos negócios, Bueno era próximo a gurus da administração moderna, como Peter Drucker e Michael Porter. Costumava dizer: "Se você quer ser sardinha, ande com sardinhas. Se quer ser tubarão, ande com tubarões".

Mas naquela tarde em Jerusalém, Edson era apenas mais um integrante da comitiva médica a caminhar pelo centro velho de Jerusalém. Aproveitei uma brecha para comprar lembrancinhas para a família. Um pacotinho, dois pacotinhos, e a uma certa altura as duas mãos estavam ocupadas. Edson se ofereceu para carregar os meus pacotes. Cansada da maratona, aceitei de imediato.

O gesto acabou virando piada no grupo. "Um dos homens mais ricos do Brasil carregando os pacotes da madame", brincou um dos médicos. Edson Bueno reunia muitos títulos, muitas conquistas, muitas histórias e muitas controvérsias. Mas, para mim, a lembrança que também fica é a de um homem gentil.


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