Folha de S. Paulo


Sexo desprotegido faz HIV se alastrar entre jovens

Azaração, beijo na boca, sexo sem camisinha. As imagens e falas exibidas no programa "Fantástico" (Globo), do último domingo (30) deixam claro o motivo pelo qual o vírus HIV vem se alastrando absurdamente entre os jovens, na contramão do que ocorre em outros países.

O jovem perdeu o medo da Aids, acha que não morre mais. Mas, como bem lembrou o doutor Drauzio Varella durante o programa, ela continua sendo uma doença grave, que não tem cura e que demandará o uso de remédios pelo resto da vida e a convivência com os efeitos colaterais, como náuseas e tontura.

Hoje, diferentemente do que ocorria na década de 1990, a Aids não tem mais cara. As pessoas não estão mais esquálidas e carecas. Aquele garoto lindo, aquela menina gostosa podem, sim, estar infectados com o vírus HIV. Desde 2006, os casos nos jovens entre 15 e 24 anos aumentaram mais de 50%. No resto do mundo, o número de novos registros nessa população caiu 32% em uma década.

"A gente não deixa de transar porque não tem camisinha", conta um garoto. Assim como ele, um terço dos jovens diz não usar preservativo quase nunca ou nunca, segundo uma pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Outra pesquisa que o Instituto Avon divulgará nesta quarta (3) aponta que 37% das mulheres já tiveram relações sexuais sem preservativos por insistência do parceiro. A pesquisa foi realizada com 2.046 jovens, entre 16 e 24 anos, nas cinco regiões do país.

Depois, correm atrás do prejuízo. No programa, uma moça que havia transado sem camisinha um mês antes chega a um posto de saúde para fazer o teste do HIV. Vinte minutos depois, recebe o resultado negativo. Ufa! O teste rápido pode ser feito de graça na rede pública de saúde. Não precisa marcar hora: é chegar e fazer.

Mas não adianta esquecer de usar camisinha e correr para fazer o teste. O exame pode levar de três a quatro semanas para ficar positivo. Mas você pode procurar a rede pública para receber o tratamento preventivo, os remédios que vão evitar que o HIV penetre o seu organismo. Eles devem ser tomados até 72 horas após o sexo desprotegido. O tratamento dura um mês. Mas lembre-se: é uma medida de emergência, não deve ser banalizada.

Os jovens costumam também ser mais displicentes com o tratamento antirretroviral, que ajuda a controlar o HIV. Um em cada cinco não aguenta a rotina regrada de tomar remédio de 12 em 12 horas e abandona o tratamento. Marwin, 22, heterossexual, descobriu-se doente no ano passado. Não tomou o coquetel corretamente, a Aids se desenvolveu e está roubando a sua visão. "Eu achava que [a doença] era mais de homossexuais."

Assim como ele, muitos meninos entre 15 e 24 anos têm aprendido, na prática, que a Aids não tem preferência sexual, embora a prevalência entre jovens gays seja 20 vezes maior em relação à população em geral: cem infectados para cada grupo de mil pessoas.

E também é sempre bom lembrar que não é só a Aids que se pega com o sexo desprotegido. A hepatite B, por exemplo, também pode matar. Por isso, pessoal, camisinha nele. Ou nela, por que não?


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