Folha de S. Paulo


Não há nada de rosa no mundo do câncer

O Palácio do Planalto e o Congresso Nacional estão rosa. O Supremo Tribunal Federal também. Vários prédios e monumentos públicos no Brasil e no mundo adotam a iluminação rosa em outubro em alusão ao mês da luta contra o câncer de mama.

Mas em se tratando de Brasil, a cor negra seria mais adequada. Não há nada de rosa no mundo do câncer, conforme mostra pesquisa divulgada nesta sexta pela Folha sobre a não aplicação da lei que prevê o início do tratamento em até 60 dias após o diagnóstico no SUS.

E essa é só a ponta do iceberg. Quantas pessoas no país não estão hoje com suspeita de câncer em filas de espera para uma consulta com especialista? Quantas não esperam há meses por um exame, uma biopsia?

Esse gargalo é invisível, imensurável. Só quem o conhece são os pacientes e alguns heroicos funcionários da ponta do sistema de saúde que, muitas vezes, buscam encaixes e jeitinhos para burlar a falta de acesso.

O governo federal insiste em dizer que não faltam recursos para tratar o câncer. Atribui a demora no acesso ao diagnóstico e tratamento da doença aos "vazios assistenciais" do país, ou seja, regiões distantes com carência de serviços de saúde e especialistas.

Mas esse vazio assistencial também ocorre em grandes centros como São Paulo. A fila de espera para a primeira consulta com um mastologista está em cinco meses. Alguém avisou o tumor de mama que ele precisa parar de crescer e esperar cinco meses?

Não é hora de os governos de todas as esferas serem mais transparentes com essas questões e chamar a sociedade civil para participar das decisões em saúde?
Isso porque a gente só está falando em apagar o incêndio. As campanhas públicas para prevenir o câncer ainda são pífias.

Hoje já sabemos que 90% das causas de câncer são ambientais. Apenas a minoria tem como influência mais marcante a genética.

E sabem qual é a estratégia mais eficaz para prevenir o câncer? Alimentação adequada, peso do corpo em acordo com o tamanho e prática regular de exercícios físicos.

No caso do tumor líder em causa de morte das mulheres brasileiras, é possível reduzir em 28% os casos de câncer de mama se essas medidas fossem tomadas.

É preciso endurecer a luta contra o câncer em todas frentes. E duvido que luzinha rosa no prédio seja a melhor arma.


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