Folha de S. Paulo


Pólio: não tem conversa, tem que vacinar

"Detecção do vírus da pólio em esgoto, Brasil". Confesso que ao ler o alerta da OMS (Organização Mundial da Saúde) nesta segunda-feira (23) sobre a detecção de um dos subtipos que causam a poliomielite, em março último, no esgoto do aeroporto de Campinas, senti um frio na barriga.

Sim, eu sei, não há motivo para pânico. Nenhum caso de contaminação humana foi relatado até o momento e a própria OMS diz se tratar de um caso isolado e importado (a amostra é similar a outra recentemente isolada de um caso na Guiné Equatorial).

O achado do vírus foi ocasional. Em dois pontos no Estado de São Paulo, a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) pesquisa a presença de vários tipos de vírus, além de componentes químicos. Um desses pontos é o esgoto do aeroporto de Viracopos.

"Foi como achar uma agulha num palheiro gigantesco", resumiu Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

O último caso de pólio registrado no Brasil foi em 1989, na Paraíba. Atualmente, o índice de cobertura vacinal é acima de 95%. No mundo, o número de casos caiu mais de 99% desde 1988, passando de 350 mil a 406 casos notificados em 2013.

Em maio deste ano, porém, a OMS decretou estado de emergência de saúde pública após o registro de novos casos de pólio no Afeganistão, Iraque e na Guiné Equatorial. Hoje, há dez regiões infectadas: na Ásia central (do Paquistão ao Afeganistão), no Oriente Médio (da República Árabe da Síria até o Iraque) e na África Central (de Camarões à Guiné Equatorial).

Ainda não se sabe exatamente os motivos que estão levando ao aumento de casos, mas as autoridades internacionais têm alguns palpites, entre eles estão as argumentações errôneas de que a vacina faz mais mal do que bem e a falta de confiança das pessoas na vacinação.

Daí o frio na barriga. A nota da OMS me fez lembrar de recente reportagem sobre os grupos antivacinas no Brasil e na dificuldade que as pessoas têm de pensar além do próprio umbigo.

Quando falamos em vacinação, especialmente de uma doença tão grave quanto a poliomielite, precisamos pensar na imunidade coletiva. Doenças já erradicadas, como a pólio, podem voltar. Provavelmente, uma criança bem-nascida e bem nutrida, mesmo que exposta ao vírus, poderá não sofrer com a doença, que é assintomática na maioria dos casos. Mas pode, sim, ser a ponte para infectar uma outra criança com menos sorte. Então, gente, não tem conversa. Tem que vacinar.


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