Folha de S. Paulo


Vidas sugadas pelos ralos

No primeiro dia do ano, Kauã brincava com a avó na piscina de um condomínio em Caldas Novas (GO), quando teve o braço sugado pelo ralo. Ficou dez minutos submerso até que conseguiram retirá-lo, inconsciente, da piscina. Morreu no sábado (4 de janeiro). Tinha sete anos.

No mesmo dia, a 550 km dali, era enterrada a menina Mariana, 7, em Belo Horizonte (MG), pelo mesmo motivo: teve os cabelos sugados pelo ralo da piscina enquanto brincava em um tobogã de um clube da cidade. Foram 20 minutos de tentativas até conseguirem retirá-la da água já inconsciente.

Duas mortes quase simultâneas que se somam a tantas outras que poderiam ter sido evitadas se as piscinas brasileiras tivessem um dispositivo de segurança que evita a sucção dos ralos. Quantas outras serão necessárias ocorrer para que esses dispositivos se tornem obrigatórios?

Vários países, como Estados Unidos e Colômbia, já aprovaram leis sobre esse tema. Na Colômbia, a Lei de Segurança de Piscinas torna esses dispositivos obrigatórios em todas as piscinas, inclusive as residenciais.

Mas não basta só a lei. Tem que ter fiscalização e punição para os responsáveis desses locais que estiverem fora dos padrões de segurança. Pais, sócios de clubes e condôminos precisam também estar atentos e cobrar os administradores desses locais não só para a proteção dos ralos como também para a presença de salva-vidas e outras medidas de segurança. A família de Kauã, por exemplo, diz que não havia salva-vidas no condomínio onde o menino se afogou.

Segundo a Sobrasa (Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático), o afogamento é a segunda causa de morte entre crianças até nove anos. As piscinas são responsáveis hoje por metade desses afogamentos, mas não se sabe quantas delas estão associadas à falta de segurança dos ralos .

Também não há levantamento do número de crianças sequeladas. São muitas por aí vivendo em estado vegetativo pela falta de oxigenação no cérebro durante o afogamento.

O verão está aí, as piscinas estão lotadas. Que as mortes de Kauã, de Mariana e de tantas outras crianças não tenham sido em vão. Que elas sirvam de alerta para prevenir outras.


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