Folha de S. Paulo


Por que sofrem os professores?

O título acima foi extraído de uma pesquisa da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) que investigou um conjunto de sintomas cada dia mais presente no dia a dia dos professores: a síndrome de Burnout, caracterizada por exaustão emocional, baixa realização profissional, sensação de perda de energia, de fracasso profissional e de esgotamento.

A burnout - do inglês burn (queima) e out (para fora, até o fim) - acomete profissionais de várias áreas, mas seu diagnóstico é mais frequente em profissões com altas demandas emocionais e que exigem interações intensas, como é o caso dos professores e dos profissionais de saúde.

Nos última década, várias pesquisas foram feitas sobre o tema. Uma delas, realizada pela psicóloga Nádia Maria Beserra Leite, da Universidade de Brasília (UNB), com mais de 8.000 professores da educação básica da rede pública na região Centro-Oeste revelou que 15,7% dos entrevistados apresentavam a síndrome de Burnout.

Caso o índice seja o mesmo em todo o país, seriam mais de 300 mil professores brasileiros convivendo com a síndrome, isso somente no ensino básico. Além do adoecimento dos mestres, tal cenário compromete também a educação de milhões de alunos.

O estudo permitiu identificar a incidência dos três sintomas que caracterizam a síndrome: exaustão emocional, baixa realização profissional e despersonalização. Quase um terço dos professores pesquisados apresentam exaustão emocional em nível considerado crítico e baixa realização profissional.

Outra pesquisa feita em escolas da região metropolitana de Porto Alegre (RS) encontrou 5,6% de professores com alto nível de exaustão emocional e 28,9% com baixa realização profissional. Mulheres, sem companheiro fixo, sem filhos, com idade mais elevada, que possuem maior carga horária, que atendem maior número de alunos e trabalham em escolas públicas apresentam maior risco de desenvolvimento de Burnout.

Como explica a psicóloga Nádia, diferentemente do estresse, que se caracteriza pela luta do organismo no sentido de recobrar o equilíbrio físico e mental, a síndrome de Burnout compreende a desistência dessa luta. Por isso se diz que Burnout é a síndrome da desistência simbólica, pois embora não se ausente fisicamente do seu trabalho, o profissional não consegue se envolver emocionalmente com o que faz.

Para ela, Burnout é resultado de longa exposição aos estressores laborais crônicos, sendo mais frequente em profissões com altas demandas emocionais e que exigem interações intensas.

No caso do professor, as demandas estão relacionadas ao cuidado, à possibilidade ou não de se estabelecer um vínculo afetivo com o aluno que favoreça o processo de aprendizagem e permita ao professor realizar um bom trabalho.

Essas demandas emocionais, apesar de inerentes à profissão, podem ser agravadas por políticas educacionais que aumentem a sobrecarga de trabalho sem a devida contrapartida, ou por condições inadequadas de trabalho, ou pela presença de alunos particularmente difíceis (alunos violentos, com grande déficit de aprendizagem) ou ainda pelo sentimento de injustiça, de não reconhecimento do seu esforço e da importância do seu papel na sociedade.

Apesar de amplamente estudada, essa síndrome não tem eco. Ninguém se lembra dela quando um professor perde o controle e agride um aluno, por exemplo. Ninguém pensa na possibilidade de ali ter mais uma vítima do que um algoz. O Estado afasta o profissional, a polícia abre inquérito policial, e o mal continua na raiz.

Tive a sorte de sempre ter encontrado nos meus mestres motivação de sobra. Da primeira professora lá nos idos de 1975, dona Sebastiana, da Escola Estadual Rubens Cláudio Moreira (Ribeirão Preto), às mais recentes, professoras doutoras Ana Maria Goldfarb (PUC) e Ana Maria Malik (FGV), todas elas sempre me inspiraram muito.

Inspirar e motivar alunos, essas são algumas das principais vocações dos grandes mestres. Sucumbidos pela síndrome de Burnout, muitos já se esqueceram que são grandes e que são mestres. Que a data de hoje sirva para lembrá-los disso. E também para chamar a atenção de governos e gestores para os doentes da educação,

*como ninguém é de ferro, saio de férias hoje por quatro semanas. Até a volta!


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