Folha de S. Paulo


Magra e fértil?

SÃO PAULO - Cortar radicalmente os carboidratos da dieta pode deixar de ser coisa de gente que faz de tudo para emagrecer para virar coisa de... gente que faz de tudo para engravidar.

Nos últimos congressos internacionais de ginecologia e de reprodução humana têm pipocado estudos clínicos mostrando que mulheres que reduziram a ingestão de carboidratos e aumentaram a de proteína durante o tratamento de fertilização in vitro tiveram mais chances de gravidez.

Um desses trabalhos foi apresentado em maio pelo pesquisador Jeffrey Russell, do Instituto de Medicina Reprodutiva Delaware, em Newark (EUA). Segundo ele, dietas ricas em carboidratos criam um ambiente hostil, de alta glicose, para os óvulos e os embriões.

Ao reduzir carboidratos e aumentar proteínas, segundo ele, "a mulher estaria banhando seu óvulo de forma saudável, com suplementos nutritivos".

Ele conta que resolveu estudar o assunto após perceber a má qualidade dos embriões de mulheres jovens e saudável, que não estavam acima do peso nem eram diabéticas.

O estudo contou 120 mulheres com 36 e 37 anos de idade. Uma parte delas adotou uma dieta diária de 60% a 70% de hidratos de carbono. Ela comeram mingau de aveia no café da manhã, um pão no almoço e macarrão para o jantar, e nenhuma proteína.

As pacientes foram classificadas em dois grupos: aquelas cuja dieta média foi mais do que 25% de proteína e aquelas cuja dieta média era inferior a 25% de proteína. Não houve diferença no índice de massa corporal médio entre os dois grupos.

Segundo ela, houve diferenças significativas em resposta à fertilização in vitro entre os dois grupos. O desenvolvimento de blastocisto foi maior no grupo de alta proteína do que no grupo de baixa proteína (64% vs 33,8%), assim como as taxas de gravidez clínica (66,6% vs 31,9%) e taxas de nascidos vivos (58,3% vs 11,3%).

Quando a ingestão de proteína era superior a 25% da dieta e a de hidratos de carbono inferior a 40%, a taxa de gravidez clínica subia para 80%. Agora, Russell aconselha todas pacientes de fertilização in vitro a reduzir a ingestão de carboidratos e aumentar a ingestão de proteínas.

"Oba! Vou ficar magra e fértil", brincou uma amiga que há quase três semanas cortou radicalmente os carboidratos da dieta. O objetivo dela é a perda de peso para o projeto "Férias no Caribe". Nesse período, já perdeu três quilos.

Mas muitas mulheres que estão na luta para engravidar podem ser seduzidas pelo "canto da sereia" da dieta que promete mais chance de gestação se entupindo de proteínas.

Nem entrarei no mérito de avaliar a fragilidade desse tipo de estudo do ponto de visto metodológico, como nunca excluir outras variáveis que podem influenciar no resultado. Vou me ater apenas ao fato de que uma dieta sem carboidratos e rica em proteínas não é nada saudável.

Embora leve à eliminação de calorias, esse tipo de dieta provoca muitos danos ao organismo. O primeiro sintoma é que a pessoa fica com mau hálito. Depois, surgem a dor de cabeça e a fadiga e fraqueza.

A longo prazo, o organismo vai tendo dificuldade para metabolizar a grande quantidade de proteína e podem surgir doenças nos rins e no fígado, que ficam sobrecarregados.

O coração também é prejudicado. Um estudo realizado na Suécia, publicado na revista "British Medical Journal", mostrou que algumas funções vitais que não possuem mais o carboidrato como fonte energética passam a sobrecarregar outras atividades do corpo.

Uma dieta equilibrada continua sendo uma dieta variada, que inclua cada um dos grupos alimentares: cereais e grãos, frutas, verduras, proteínas, laticínios, gorduras e óleos. O resto cheira a marketing.


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