Folha de S. Paulo


Bichos da gente

Daniel Bueno

Na sala de espera da clínica veterinária, a conversa é animada. Uma moça de vinte e poucos anos fala sobre os 57 gatos e 16 cachorros que sua mãe tem em casa. Uma senhora traz um cãozinho sadio e contente e mostra a foto de como ele era quando o encontrou na rua, sarnento e bexiguento. Ela conta que tira as fotos para conseguir dinheiro para a ração dos cachorros que pega na rua. Quando ficam bonzinhos, ela os coloca para doação.

Perto da porta, uma família veio trazer uma gata para ser castrada. Quem é o dono? "É da minha tia, mas eu que encontrei", diz Eduardo. A mãe completa: "Já o proibi de pegar gato na rua. Até agora foram nove". Mas por que veio toda a família junta? O tio de Eduardo responde que não tem jeito, corintiano sempre anda em bando. Estão esperando a anestesia geral da gata passar para voltarem para casa.

Uma senhora fala dos cachorros e do marido, que não aguenta mais nenhum dos bichos em casa. Duas meninas que acompanhavam uma cadelinha perderam aula. Por ser um serviço gratuito, a variedade de pessoas na clínica da Vila Ipanema é enorme, vem gente da cidade inteira.

O curioso é perceber a relação que é criada com os bichos, chamados muitas vezes de "filho", "meu bebezinho"... Ali parecia uma sala de hospital. Depois de horas esperando, penso que o mundo seria melhor se todos cuidassem das pessoas da mesma maneira que aquela gente cuida dos animais.


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