Folha de S. Paulo


Jogar bola na rua

Daniel Bueno

A rua de casa é pequena, tem apenas um quarteirão. No começo dela existe uma placa amarela com um ícone de uma criança jogando bola. É isso mesmo: minha rua, no miolo da cidade grande e movimentada, é uma via em que crianças jogam bola.

Quase todos os dias, lá pelas 16h30, os meninos se reúnem. O Samuca, o Caio do predinho da frente e também seu primo Vitor, que só vem aos fins de semana, e o Benja aqui de casa. Batem uma bola sem muito compromisso, mas por tempo suficiente para todo mundo sair suado e melado.

Mas nem sempre foi assim, pelo menos no nosso caso. Talvez tenha mudado porque o Benjamim cresceu. Talvez porque o Caio e o Vitor resolveram gostar do menino mais novo que mora em frente à casa deles. Só sei que aqui virou um entra e sai de crianças frenético, em que toda hora tem que ter um lanche para essa garotada.

Quando eu era pequena, nossa rua também era legal, mas não dava para brincar (no máximo na calçada, e olhe lá). Hoje em dia é capaz de adulto ter um piripaque no coração só de ouvir que as crianças vão brincar na rua.

Sem querer ser saudosista, mas essa é uma das coisas que mais invejo dos tempos antigos: a liberdade de usar a rua como nossa. Acho que a turma que passeia no Minhocão aos fins de semana ou as pessoas que têm uma praça que consideram "suas" sentem isso.

Espero que, no futuro próximo, tenhamos mais ruas para as crianças.


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