Na semana passada saiu a lista dos melhores documentários do mundo pelo BFI (British Film Institute), uma das maiores instituições de pesquisa e preservação de filmes. "O Homem com a Câmera", do russo Dziga Vertov, de 1929, foi considerado o número 1. Agora, alguém deve estar pensando: "Por que raios você resolveu falar disso justamente aqui na 'Folhinha'?".
Daniel Bueno | ||
Dziga Vertov quer dizer Cigano Rodopia. Ele inventou esse nome que parece um pouco como seu filme do homem com a câmera. Nele, acompanhamos um dia na vida de uma grande cidade russa com um olhar que vai de lá pra cá, passeia, rodopia pelo cotidiano -e nós, espectadores do século 21, vamos descobrindo como é que era a vida em 1929.
Carroças, carros, bondes, ônibus e pedestres se embaralhavam nas ruas, cada um indo para o seu serviço. Mas a câmera não está assim tão atarefada e pode prestar atenção em coisas pequenas, como os truques de um mágico, uma mulher acordando, a turma se divertindo na praia, alunos numa escola, o trabalho dos bombeiros. Apesar de diferente e antigo, tem muito de nosso dia a dia nessas vidas.
Dá para ver o filme no YouTube e talvez valha a pena vê-lo aos poucos, sem pressa. Reconhecer a poesia da vida requer tempo e vagar, um olhar atento e sem preconceitos. Exatamente como Vertov, exatamente como uma criança.